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Leia o artigo "O Estado do Guaicuru", por Wagner Cordeiro

31 Mai 2011 - 18h00Por Wagner Cordeiro

O Estado do Guaicuru

Prezado leitor, até pouco tempo eu tinha opinião contrária a idéia de mudança do nome do estado de Mato Grosso do Sul, tanto é que em junho de 2009 tive publicado nos jornais Diário MS, Boca do Povo e Correio do Estado, um artigo intitulado: “Prazer! Eu sou sul-mato-grossense”. Contudo, algumas leituras e experiências vêm fazendo-me repensar a defesa da atual denominação. Sinceramente, já estou cansado de ter que ouvir, quando viajo a outra Unidade da Federação, os cidadãos se referirem ao lugar onde vivo pelo nome Mato Grosso, esquecendo-se de acrescentar o termo “do Sul”. Nesses casos, sou rápido, e logo respondo: é Mato Grosso do Sul!

Há algumas semanas atrás o Correio do Estado publicou dois artigos dos senhores advogados Gilson Cavalcante Ricci e Oswaldo Barbosa de Almeida, intitulados “O Estado do Amambaí”. O primeiro autor justifica essa denominação se referindo a uma homenagem ao tradicional bairro Amambaí, localizado em Campo Grande. Seu propósito não se restringe apenas a mudar o nome, vai mais além, e sugere dividir o atual território, criando o Estado do Pantanal, com capital em Corumbá, e o Estado do Amambaí, no que restaria do atual MS. Ressalto, entretanto, que quanto a esta última proposta sou totalmente contrário.

No segundo texto, de autoria do senhor Oswaldo Barbosa, um trecho chamou-me a atenção quando ele descreveu um episódio vivido ao abastecer seu carro na cidade de Umuarama (PR). Conforme Oswaldo, o gerente do estabelecimento ao observar a placa de seu automóvel (de MS) referiu-se a nossa terra, daquela maneira errada. Ao corrigi-lo, o advogado teve de ouvir como resposta que o nome Mato Grosso do Sul não havia pegado nos outros estados. Que absurdo!

No início desse ano, atores da novela Insensato Coração, da Rede Globo, cometeram uma gafe ao se referir à cidade de Bonito (MS), como sendo localizada no MT. Recentemente, outro erro grosseiro ocorreu no site da Câmara dos Deputados. Em matérias publicadas em diversos jornais, revelou-se que no endereço eletrônico daquela casa parlamentar, os deputados federais sul-mato-grossenses apareciam como deputados mato-grossenses. Os parlamentares bateram o pé, e a correção foi feita.
Dessa maneira, pergunto-me: será que isso nunca vai mudar? Sendo assim, já que o restante dos irmãos brasileiros não leva a sério a idéia de nos chamar de sul-mato-grossense, ou não gostam de estudar Geografia nacional, ou nunca viram um mapa político do Brasil atual, venho-me somar à idéia de troca de nome (o meu amigo, jornalista Sergio Cruz vai ficar contente) e sugerir uma nova denominação.

Que tal Estado do Guaicuru? Isso mesmo, Guaicuru, uma das maiores tribos indígenas que habitou a região do antigo sul de Mato Grosso, entre as regiões dos rios Apa e Paraguai. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, esses povos pertenciam à família Mbaya-Guaicuru. Eram conhecidos como índios cavaleiros, devido as suas habilidades na montaria a cavalo, adquirida após a introdução desse animal pelos espanhóis. Entre os séculos XVI e XVIII, esse grupo resistiu bravamente à imposição da dominação colonial espanhola e portuguesa. Talvez, devido a essas características, dominavam, por meio de saques e violência, outras tribos, subjugando-as. Na Guerra do Paraguai, ajudaram o Exército imperial nas batalhas terrestres (vale ressaltar aqui que sou totalmente avesso a qualquer tipo de guerra, violência e imperialismo). A partir de meados do século XX, no entanto, essa população começou a sofrer os males do contato com outros povos, como a perca da identidade, a aquisição de doenças, entre outros problemas. Atualmente, a reserva dos Kadiwéu, localizada no Pantanal, é a única representante dos sobreviventes da nação Mbaya-Guaicuru.

Esse nome é muito presente por aqui. Tomemos como exemplos a Assembleia Legislativa, sediada em Campo Grande, e a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada do Exército Brasileiro, localizado em Dourados. Ambas recebem a denominação dessa etnia. Nesse mesmo sentido de se homenagear grupos indígenas, vários artistas regionais já cantaram, pintaram ou esculpiram os índios sul-mato-grossenses. O Grupo Acaba e os irmãos Espíndola são exemplos de conjuntos musicais que rememoram os diversos grupos aborígenes que aqui vivem e viveram.

O Estado do Guaicuru, de certa forma, seria uma maneira de repararmos um lado cruel de nosso processo histórico, marcado pelo extermínio de diversas nações indígenas, e quem sabe assim, combater o preconceito contra os índios, existente no estado do latifúndio. Não seria tão estranho termos essa denominação, já que nos acostumamos com outras de origem indígena. Amambai, Corumbá e Caarapó, são alguns municípios de denominação tupi-guarani. Além disso, creio que as características de povo batalhador dos índios Guaicuru, assemelhem-se, guardada as devidas proporções, às qualidades de boa parcela do povo brasileiro que luta dia a dia para sustentar suas famílias, pagar pesados impostos e ter uma vida digna.

Certamente serei questionado: por que não Estado do Pantanal, como muitos querem? Primeiramente, respeito a opinião dos defensores dessa opção. Por outro lado, penso que não seria interessante termos essa denominação para todo o território do atual MS. O belíssimo Pantanal, dádiva de Deus aqueles que vivem nessa terra, e que precisa ser urgentemente preservado, compreende uma região geográfica que abarca apenas alguns municípios daqui.

Em fim, volto a ressaltar, o Estado do Guaicuru é apenas uma sugestão que pode ser acrescentada a uma lista de outros nomes (Amambaí, Campo Grande, Maracaju, Pantanal, entre outros) para a realização de um plebiscito, onde os cidadãos iriam escolher qual a melhor denominação para esta unidade federativa do Brasil. Fico com o coração partido em ter que defender o sepultamento do nome Mato Grosso do Sul, todavia, pelo andar da carruagem, parece que a alternativa será mesmo a alteração.  
 

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