Foram três horas de muita angústia nos 11 andares do Hospital municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Eram 20h09m de domingo e ventava forte no bairro quando todas as luzes do edifício se apagaram. O gerador da unidade entrou em funcionamento, mas, segundo funcionários, por apenas 17 minutos. Cerca de meia hora depois, foi a vez de acabar a carga das baterias portáteis dos aparelhos usados em pacientes que dependem de equipamentos para respirar. O que se seguiu foram momentos de caos — e de esforço heroico das equipes de médicos, enfermeiros e auxiliares. Eles correram para os CTIs e para a emergência, na escuridão, sob lanternas de celular, para manter vivos os pacientes graves que estavam intubados.
Durante mais de duas horas, eles se revezaram no uso de ambus, dispositivos que fazem a ventilação pulmonar manualmente. Quando um profissional não aguentava mais bombear, outro assumia.
Paciente morre em CTI
Se do lado de dentro do hospital, a tensão predominava, do lado de fora, a situação não era muito diferente. Angustiados, parentes de doentes buscavam em vão notícias. O motorista Reinaldo Martins, de 28 anos, era um dos acompanhava aflito a correria de médicos e enfermeiros e a chegada de ambulâncias, que transferiram os pacientes mais graves durante o apagão, que durou quase três horas. Ele aguardava notícias do pai, o aposentado Reginaldo José da Silva, de 64 anos, internado desde o último dia 8, após sofrer um AVC enquanto andava de bicicleta. Às 3h, funcionários avisaram ao rapaz que o pai não seria levado para outra unidade.
— Pela manhã, me ligaram e corri para o hospital. Disseram que ele morreu às 6h30m. Mas não acredito. Tenho certeza de que ele morreu durante a falta de luz. Foi muito tempo sem energia — diz Reinaldo. — Nós o visitamos horas antes da energia acabar, e o médico disse que ele estava se recuperando bem.
Reinaldo Martins ficou aguardando em vão notícias do pai na porta do hospital de Realengo Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo
Reinaldo contou ainda que, por volta de 1h30m, viu macas com sacos pretos saindo da emergência:
— Mais gente morreu durante esse apagão. Estava um desesperador. Só pararam quando a imprensa chegou.
Enquanto várias equipes lutavam para manter vivos pacientes, uma outra ajudou uma mãe a dar à luz no breu. Os médicos realizaram um parto normal com a sala iluminada apenas por celulares.
Ambulâncias na porta do Hospital Albert Schweitzer, para transferir pacientes em estado grave, na noite de domingo Foto: Bruno Kaiuca / Agência O Globo
No dia 14, seis dias após um temporal deixar dez mortos na cidade, o prefeito Marcelo Crivella anunciou novos protocolos de ação. Entre as medidas, está a “verificação do abastecimento dos geradores nas unidades pré-hospitalares e hospitalares”, “com destacamento de uma equipe de prontidão”. Ele ainda recomendou que unidades particulares e públicas de outras esferas de governo fizessem o mesmo.
A Secretaria municipal de Saúde afirmou que “em nenhum momento, qualquer aparelho da UTI deixou de funcionar” e que não houve óbitos relacionados à falta de luz. O órgão confirmou que pacientes tiveram que ser transferidos, sem revelar, no entanto, quantos foram. Em nota, disse também que os geradores foram acionados e atuaram durante uma hora. Segundo a secretaria, os aparelhos pararam de funcionar quando entrou água de chuva nos tanques de diesel dos equipamentos. O hospital alugou dois geradores, que seriam instalados na noite deste segunda-feira. Sobre Reginaldo José da Silva, informou que seu estado era “gravíssimo”.
A Light, por sua vez, informou que a queda de árvores na rede afetou o fornecimento e afirmou que “é importante esclarecer que todos os hospitais devem possuir um gerador para garantir fornecimento ininterrupto de energia, mesmo quando houver ocorrências na rede da distribuidora”.
O Instituto Médico-Legal também foi afetado e ficou sem luz por 17 horas, prejudicando necropsias.
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