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Leia o artigo “Sobre a presença indígena nos Estados Unidos”, por Jorge Eremites

30 Mar 2012 - 18h05Por Jorge Eremites

“Sobre a presença indígena nos Estados Unidos”

Jorge Eremites de Oliveira*

Em Mato Grosso do Sul, frequentemente se observa pessoas a dizer que deveríamos ter feito aqui o que teria sido feito nos Estados Unidos com os povos indígenas de lá: aniquilação total! Segundo alguns pensam, ou querem fazer crer, naquele país o General Cluster (George Armstrong Cluster) teria exterminado por completo a população indígena daquele país no século XIX, quando comandou o Sétimo Regimento de Cavalaria e fez guerra contra vários povos indígenas. O que se esquece ou omite de dizer, de maneira deliberada, é que o militar foi morto em combate no dia 25 de junho de 1876, na famosa batalha de Little Bighorn, no estado de Montana, quando cerca de 10 mil indígenas, sob a liderança de Touro Sentado (Sitting Bull), Cavalo Louco (Crazy Horse), Duas Luas (Two Moons) e outros à frente de uma coalizão intertribal, rechaçaram com veemência os ataques e impuseram uma grande e vergonhosa derrota ao exército estadunidense. Existem até filmes sobre o assunto, como a película “Pequeno Grande Homem”, de 1970, com o ator Dustin Hoffman no papel principal de Jack Crabb, personagem sobrevivente da guerra e narrador da trama. Mas as chamadas “guerras indígenas” (Indian Wars) foram, na verdade, guerras de conquista e verdadeiros genocídios promovidos pelos Estados Unidos. Não terminaram no Velho Oeste do século XIX e ainda seguiram em parte do século passado, como ocorreu durante a construção de algumas estradas de ferro. Contudo, nunca houve um total extermínio dos povos indígenas naquela parte da América do Norte.

Hoje em dia, porém, a população indígena do país é grande e diversificada em termos étnicos e socioculturais. Lá os índios são percebidos como “americanos nativos” e estão presentes, para mais ou para menos, em todo o território estadunidense, da Costa Leste à Costa Oeste, inclusive no Alasca e no arquipélago do Havaí. Além disso, há ainda povos menores que na atualidade reivindicam o reconhecimento étnico junto ao governo central, a exemplo do que também ocorre no Brasil e em outros países do continente.

Segundo censo feito em 2003 pelo United States Census Bureau, a população indígena naquele país foi estimada em quase 2,8 milhões de pessoas, distribuídas em várias etnias: Navajo, Cherokee, Choctaw, Sioux, Chippewa, Apache, Blackfeet, Iroquois, Pueblo e dezenas de outras. Lá, ao menos desde a década de 1960, os povos nativos conquistaram o direito de serem membros de nações que possuem certa soberania e podem firmar tratados. Fundaram jornais e mídias independentes na Internet; possuem escolas comunitárias, faculdades tribais, museus, cassinos e até um canal de televisão, chamado FNX, criado recentemente. Muitos são médicos, atores, professores, políticos, atletas, empresários, pecuaristas, agricultores, militares etc. Conquistaram tudo isso sem perderam sua indianidade ou serem totalmente assimilados pela sociedade nacional. Atualmente são mais de 560 governos tribais reconhecidos oficialmente, os quais possuem direitos semelhantes aos dos cinquenta estados que compõem os Estados Unidos. Mas nem tudo por lá é um mar de rosas e por isso os índios seguem com movimentos pela reivindicação de direitos, rumo à sua autodeterminação, sem, contudo, ao menos até onde se tem conhecimento, ter alguma proposta separatista ou afronta à soberania do Estado-nação estadunidense. E para os que venham a ter dúvidas sobre os dados aqui apresentados, basta fazer uma pesquisa em mecanismos de busca na Internet com a frase “Native Americans in the United States” e esclarecê-las.

Feita esta pequena explicação, penso que em Mato Grosso do Sul e em outras partes do país precisa haver uma espécie de choque de humanização, via educação e maior presença efetiva e moralizadora do Estado em áreas de conflito pela posse da terra, para a construção de uma outra sociedade possível, na qual posturas intolerantes, racistas e tendências genocidas não tenham mais vez, voto e espaço. Sem isso, seguiremos neste falso faroeste em que por vezes prevalece a velha “Lei do 44”, também conhecida como “Justiça de Mato Grosso”, onde certamente não terá sucesso qualquer tentativa de exterminar a população indígena que aqui existe. Isso porque a cada ano ela cresce em termos demográficos, ocupa mais espaços na sociedade nacional e se fortalece politicamente. Além disso, é importante, antes de certas pessoas manifestarem publicamente opinião ou juízo de valor sobre matérias que fogem a sua expertise, que se dignem a conhecer melhor a história dos povos indígenas (e o direito indigenista) para não falar impropriedades sobre o assunto e, dessa forma, estimularem ainda mais a intolerância, o preconceito e a violação de direitos.

(*) Professor da UFGD, graduado em História pela UFMS, mestre e doutor em História/Arqueologia pela PUCRS, com estágio de pós-doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. Email: eremites@ufgd.edu.br.

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