Menu
FARMÁCIA_CENTROFARMA_FULL
segunda, 7 de outubro de 2024
FARMÁCIA_CENTROFARMA_FULL
Busca
Busca
SUA SAÚDE

Carnes de bichos selvagens podem transmitir parasitas, vírus e até matar

Em muitas regiões brasileiras, principalmente rurais e no interior, a exemplo do Pantanal, é comum comer carne de roedores como capivara, cutia, preá e até mesmo jacaré

27 Jan 2021 - 09h28Por UOL

No Brasil, muitos estranham ao saber que na China são consumidos, por exemplo, morcegos, cobras, ratos e pangolins. Porém, por aqui, também há em alguns cardápios regionais carnes que vão além das tradicionais de vaca, porco e frango. "Em muitas regiões brasileiras, principalmente rurais e no interior, a exemplo do Pantanal, é comum comer carne de roedores como capivara, cutia, preá e até mesmo jacaré", explica Paulo Olzon, clínico e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

Em 2017, uma pesquisa da UFAC (Universidade Federal do Acre) com 550 entrevistados apontou que 78% consomem ou consumiram carne de animal selvagem, sendo a paca e o tatu as espécies mais procuradas. Ainda de acordo com o estudo, donos de boxes de mercados (91%) e de restaurantes locais (85%) também informaram ter interesse em comercializar carnes exóticas legalizadas e que essas "iguarias" apresentaram uma aceitabilidade de 100%.

No Brasil, ilegalidade favorece zoonoses O problema do consumo de animais silvestres, sem que estes tenham sido criados, abatidos e processados em carne legalmente, é a transmissão de suas doenças, as zoonoses, a seres humanos. "Estudos comprovaram que grande parte das doenças infecciosas emergentes é representada por patógenos causadores de zoonoses e, destes, 71,8% têm origem em animais silvestres", explica Vânia Maria França Ribeiro, médica veterinária e professora da UFAC. Se na China essas ameaças espreitam os "mercados molhados", que vendem todo tipo de carne fresca e onde as condições de higiene, refrigeração, criação e abate são precárias, no Brasil o problema das zoonoses está relacionado principalmente à falta de fiscalização e comercialização de carnes provenientes de caça (que é proibida, com a ressalva do javali em determinadas regiões sob a premissa de controle populacional) ou de cativeiros clandestinos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), mais de 200 doenças transmissíveis se enquadram na definição de zoonoses. Elas são causadas por agentes etiológicos diversos, como bactérias, vírus e protozoários, mas sem que necessariamente o animal portador exteriorize qualquer sinal de que esteja com alguma alteração de saúde, como uma infecção.

Perigos que podem migrar para o prato.

Além dos bichos anteriormente citados (tatu, paca, capivara), também são alvos de caçadores e criadores ilegais macacos, jabutis, gambás, antas etc. Já entre as zoonoses que eles podem transmitir aparecem a raiva (também adquirida de cães e gatos), tuberculose, cisticercose (que provoca convulsões, inchaços e cegueira), doença de Chagas, hanseníase, toxoplasmose, salmonelose, brucelose (cujos sintomas incluem dores articulares e tosse), hidatidose (causa fístulas e necroses) e até peste bubônica (a tão famosa "peste negra", que pode ser fatal). Algumas dessas zoonoses também podem ser compartilhadas por animais como bois, porcos e frangos criados de forma irregular e encontradas fora do país. "A triquinelose, que provoca alterações musculares graves, por exemplo, pode estar relacionada tanto ao consumo de carne mal cozida de veados [além de onças, ursos e morsas] como de porcos, que ainda estão sujeitos à hepatite E, presente em ostras e que na Ásia e na Europa tem ganhado importância", explica Lauro Ferreira, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor na EMESCAM (Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória). Em 2018, um estudo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases mostrou que 62% dos tatus-galinha da Amazônia brasileira carregam a bactéria Mycobacterium leprae, que causa a hanseníase conhecida no passado como lepra. O contágio dos animais ocorreu pelo contato com os colonizadores europeus e está sendo "devolvido" aos humanos por meio do consumo da sua carne. No estado do Pará, 65% da população come tatu pelo menos uma vez ao ano e no Brasil são registrados anualmente mais de 25 mil casos da doença, sendo a maioria reportada nas regiões Norte e Centro-Oeste, informa o Ministério da Saúde.

Carnes silvestres exigem cuidados.

Com tantos perigos —muitos ainda pouco compreendidos pela ciência—, haveria então uma maneira segura de se consumir carnes exóticas? Para os médicos, a resposta é sim, mas reafirmando e complementando o que já foi dito: é preciso adquirir esses alimentos de fontes certificadas legalmente e seguir cuidados de higiene, armazenamento, manuseio e preparo. "Assar, cozer, ferver ou fritar bem a carne são medidas eficazes para eliminar os agentes de zoonoses, cujo risco de transmissão é maior em carnes cruas ou malpassadas", explica Olzon. "Essa carne precisa ser exposta entre 67 a 70ºC, por 15 a 20 minutos", acrescenta Ferreira. A inativação com defumação e salmoura, no caso das salmonelas, costuma ser insatisfatória e, de acordo com um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicado na revista Morbidity and Mortality Weekly Report sobre exames feitos em carnes de caça, nem sempre o congelamento (que deve ser mantido a -20ºC) demonstra eficácia contra alguns tipos de zoonoses agressivas. Portanto, na dúvida sobre a procedência e o estado do alimento, não o consuma, pois é até mesmo arriscado errar no ponto de cocção. É importante destacar ainda que, mesmo sendo tomadas todas as precauções, há espécies que além do potencial de transmitirem doenças são venenosas e para serem consumidas exigem conhecimento específico de preparo.

É o caso, por exemplo, de escorpiões e algumas cobras, que mesmo passando pelo fogo precisam ter alguns segmentos do corpo retirados antes. No Japão, o peixe baiacu, também consumido no Brasil, requer até mesmo uma licença especial.

Errata: o texto foi atualizado Diferentemente do que dizia o título do texto e a chamada na Homepage do UOL, as carnes que podem transmitir doenças são de bichos selvagens, não exóticos, já que os animais citados no texto são todos originários do Brasil. A informação foi corrigida. 

Junte-se a nós no WhatsApp!

Toque no botão abaixo e entre no nosso grupo exclusivo do WhatsApp para receber atualizações em primeira mão.

Entrar

Leia Também

FÁTIMA DO SUL DE LUTO
Fátima do Sul se despede da Márcia Pereira, família informa sobre velório e sepultamento
Óbito foi constatado no HU, onde a criança estava internada: Dourados registrou a quarta morte
Menina de 5 anos morre vítima de dengue em cidade do MS; 3º caso no ano
BOMBEIROS - Imagem: ilustração TRAGÉDIA EM CASA
Mulher morre no hospital após ter corpo queimado enquanto fazia bife na chapa
'Cultura do cuidado': campanha Outubro Rosa tem foco na prevenção e promoção de hábitos saudáveis
Boletim Epidemiológico: MS registra 15.901 casos confirmados de dengue

Mais Lidas

FOTO: LIVE MS NEWSVICENTINA - ACIDENTE COM VÍTIMA
AGORA: Acidente com vítimas fatais em VICENTINA
VEREADORES ELEITOS EM FÁTIMA DO SULFÁTIMA DO SUL - VEREADORES ELEITOS
Confira os vereadores ELEITOS em Fátima do Sul
Local do acidente em que motociclista morreu na manhã deste sábado em Dourados Dourados
Puxando carretinha, homem perde controle de moto, bate em carro e morre
FÁTIMA DO SUL DE LUTO
Fátima do Sul se despede da Márcia Pereira, família informa sobre velório e sepultamento
FOTOS: O PANTANEIROACIDENTE FATAL
Após atropelar capivara, motorista perde controle, bate em árvore e morre