Menu
FARMÁCIA_CENTROFARMA_FULL
quinta, 25 de abril de 2024
FARMÁCIA_CENTROFARMA_FULL
Busca
Busca
SUA SAÚDE

Carnes de bichos selvagens podem transmitir parasitas, vírus e até matar

Em muitas regiões brasileiras, principalmente rurais e no interior, a exemplo do Pantanal, é comum comer carne de roedores como capivara, cutia, preá e até mesmo jacaré

27 Jan 2021 - 09h28Por UOL

No Brasil, muitos estranham ao saber que na China são consumidos, por exemplo, morcegos, cobras, ratos e pangolins. Porém, por aqui, também há em alguns cardápios regionais carnes que vão além das tradicionais de vaca, porco e frango. "Em muitas regiões brasileiras, principalmente rurais e no interior, a exemplo do Pantanal, é comum comer carne de roedores como capivara, cutia, preá e até mesmo jacaré", explica Paulo Olzon, clínico e infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

Em 2017, uma pesquisa da UFAC (Universidade Federal do Acre) com 550 entrevistados apontou que 78% consomem ou consumiram carne de animal selvagem, sendo a paca e o tatu as espécies mais procuradas. Ainda de acordo com o estudo, donos de boxes de mercados (91%) e de restaurantes locais (85%) também informaram ter interesse em comercializar carnes exóticas legalizadas e que essas "iguarias" apresentaram uma aceitabilidade de 100%.

No Brasil, ilegalidade favorece zoonoses O problema do consumo de animais silvestres, sem que estes tenham sido criados, abatidos e processados em carne legalmente, é a transmissão de suas doenças, as zoonoses, a seres humanos. "Estudos comprovaram que grande parte das doenças infecciosas emergentes é representada por patógenos causadores de zoonoses e, destes, 71,8% têm origem em animais silvestres", explica Vânia Maria França Ribeiro, médica veterinária e professora da UFAC. Se na China essas ameaças espreitam os "mercados molhados", que vendem todo tipo de carne fresca e onde as condições de higiene, refrigeração, criação e abate são precárias, no Brasil o problema das zoonoses está relacionado principalmente à falta de fiscalização e comercialização de carnes provenientes de caça (que é proibida, com a ressalva do javali em determinadas regiões sob a premissa de controle populacional) ou de cativeiros clandestinos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), mais de 200 doenças transmissíveis se enquadram na definição de zoonoses. Elas são causadas por agentes etiológicos diversos, como bactérias, vírus e protozoários, mas sem que necessariamente o animal portador exteriorize qualquer sinal de que esteja com alguma alteração de saúde, como uma infecção.

Perigos que podem migrar para o prato.

Além dos bichos anteriormente citados (tatu, paca, capivara), também são alvos de caçadores e criadores ilegais macacos, jabutis, gambás, antas etc. Já entre as zoonoses que eles podem transmitir aparecem a raiva (também adquirida de cães e gatos), tuberculose, cisticercose (que provoca convulsões, inchaços e cegueira), doença de Chagas, hanseníase, toxoplasmose, salmonelose, brucelose (cujos sintomas incluem dores articulares e tosse), hidatidose (causa fístulas e necroses) e até peste bubônica (a tão famosa "peste negra", que pode ser fatal). Algumas dessas zoonoses também podem ser compartilhadas por animais como bois, porcos e frangos criados de forma irregular e encontradas fora do país. "A triquinelose, que provoca alterações musculares graves, por exemplo, pode estar relacionada tanto ao consumo de carne mal cozida de veados [além de onças, ursos e morsas] como de porcos, que ainda estão sujeitos à hepatite E, presente em ostras e que na Ásia e na Europa tem ganhado importância", explica Lauro Ferreira, infectologista da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor na EMESCAM (Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória). Em 2018, um estudo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases mostrou que 62% dos tatus-galinha da Amazônia brasileira carregam a bactéria Mycobacterium leprae, que causa a hanseníase conhecida no passado como lepra. O contágio dos animais ocorreu pelo contato com os colonizadores europeus e está sendo "devolvido" aos humanos por meio do consumo da sua carne. No estado do Pará, 65% da população come tatu pelo menos uma vez ao ano e no Brasil são registrados anualmente mais de 25 mil casos da doença, sendo a maioria reportada nas regiões Norte e Centro-Oeste, informa o Ministério da Saúde.

Carnes silvestres exigem cuidados.

Com tantos perigos —muitos ainda pouco compreendidos pela ciência—, haveria então uma maneira segura de se consumir carnes exóticas? Para os médicos, a resposta é sim, mas reafirmando e complementando o que já foi dito: é preciso adquirir esses alimentos de fontes certificadas legalmente e seguir cuidados de higiene, armazenamento, manuseio e preparo. "Assar, cozer, ferver ou fritar bem a carne são medidas eficazes para eliminar os agentes de zoonoses, cujo risco de transmissão é maior em carnes cruas ou malpassadas", explica Olzon. "Essa carne precisa ser exposta entre 67 a 70ºC, por 15 a 20 minutos", acrescenta Ferreira. A inativação com defumação e salmoura, no caso das salmonelas, costuma ser insatisfatória e, de acordo com um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos publicado na revista Morbidity and Mortality Weekly Report sobre exames feitos em carnes de caça, nem sempre o congelamento (que deve ser mantido a -20ºC) demonstra eficácia contra alguns tipos de zoonoses agressivas. Portanto, na dúvida sobre a procedência e o estado do alimento, não o consuma, pois é até mesmo arriscado errar no ponto de cocção. É importante destacar ainda que, mesmo sendo tomadas todas as precauções, há espécies que além do potencial de transmitirem doenças são venenosas e para serem consumidas exigem conhecimento específico de preparo.

É o caso, por exemplo, de escorpiões e algumas cobras, que mesmo passando pelo fogo precisam ter alguns segmentos do corpo retirados antes. No Japão, o peixe baiacu, também consumido no Brasil, requer até mesmo uma licença especial.

Errata: o texto foi atualizado Diferentemente do que dizia o título do texto e a chamada na Homepage do UOL, as carnes que podem transmitir doenças são de bichos selvagens, não exóticos, já que os animais citados no texto são todos originários do Brasil. A informação foi corrigida. 

Participe do nosso canal no WhatsApp

Clique no botão abaixo para se juntar ao nosso novo canal do WhatsApp e ficar por dentro das últimas notícias.

Participar

Leia Também

FOTOS: Ronald Regis e João Éric / Jornal O Pantaneiro TRAGÉDIA NAS ESTRADAS
Acidente entre caminhão e carro mata criança de 5 anos em MS
FOTO: REDES SOCIAIS SUCURI MORRE ENTALADA
Sucuri gigante é encontrada morta com presa entalada no corpo em MS
JATEÍ - SOLIDARIEDADE
Direito de Viver: Jateí vai realizar Leilão do Bem neste dia 28 no Parque da Fogueira
Sidney Assis, de Coxim TRAGÉDIA NAS ESTRADAS
TRAGÉDIA: Acidente mata mãe e filho
*Com informações Agência ALEMS CAMPANHA GOVERNO DE MS
Solidariedade: Governo e Assembleia Legislativa se unem na campanha "Seu Abraço Aquece"

Mais Lidas

FOTO: BLOG FAVO DE MELFÁTIMA DO SUL DE LUTO
Fátima do Sul com tristeza se despede do querido amigo Mirão, família informa sobre velório
DESPEDIDA
Morte precoce de mulher abala moradores de Mato Grosso do Sul
Entretenimento
Encontro Nacional de Violeiros do MS acontece neste fim de semana em Vicentina, veja a programação
FOTO: MÍDIA MAXFEMINICÍDIO EM MS
'Matei porque era prostituta': Homem deu 30 facadas em mulher e passou 3 dias com corpo em MS
Sidney Assis, de CoximTRAGÉDIA NAS ESTRADAS
TRAGÉDIA: Acidente mata mãe e filho