Depois de sete altas consecutivas, o dólar caiu em relação ao real nesta quinta-feira (5) após o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ter afirmado que a autoridade vai manter seu programa de intervenções diárias no câmbio para conter o avanço da moeda provocada por incertezas em relação à recuperação da economia americana.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em queda de 0,76%, a R$ 2,361 na venda. Ontem, a moeda havia fechado em seu maior valor em mais de três meses. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, encerrou a quinta-feira com desvalorização de 1,25%, a R$ 2,359.
De acordo com Tombini, a forte oscilação da moeda poderia pressionar a inflação, algo que o BC quer evitar. Ele não deu, porém, detalhes de como serão os "ajustes" que o programa sofrerá nem de quando começarão.
O dólar mais alto encarece, em reais, os produtos importados pelo Brasil, como matérias-primas, componentes eletrônicos e outros itens de consumo, o que contribui para o aumento da inflação no país --que já preocupa o governo.
"Aproveito a oportunidade para dizer que, com alguns ajustes, o BC estenderá o programa de hedge [proteção] cambial no futuro. Em 2014, o BC não sairá de cena deste mercado", disse Tombini no discurso que precedeu almoço promovido pela Febraban (federação dos bancos) para presidentes de bancos, executivos do setor, ministros, secretários e outros convidados, em São Paulo.
Especialistas consultados pela Folha afirmam que o anúncio do presidente do BC tranquilizou o mercado, que estava preocupado com o fim do programa de intervenções, anteriormente previsto para este mês.
"Esse era um dos motivos que estavam empurrando para cima a cotação da moeda americana nos últimos dias", diz Guilherme Prado, especialista em câmbio da Fitta DTVM. "Além disso, os meses de dezembro costumam contribuir para a alta do dólar porque as empresas aumentam suas remessas para o exterior. Com a prorrogação do programa, o BC pelo menos ameniza essa alta, embora a tendência continue de oscilação para cima", acrescenta.
Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, a medida do BC mostra que o governo está fazendo tudo o que pode para controlar a inflação no próximo ano.
"Para 2013, nada mais pode ajudar. O aumento do juro básico [a Selic] para 10% ao ano vai amenizar a inflação apenas em 2014. O governo está fazendo tudo o que ele pode em 2013 para estancar a inflação e ajudar a economia no próximo ano. Através do seu programa de intervenções no câmbio, o Banco Central tenta segurar a volatilidade do dólar e, com isso, reduzir a pressão inflacionária. Esse foi um dos motivos que pode ter motivado o BC a manter seu programa por mais tempo", diz.
EUA
As incertezas dos investidores sobre o ritmo de recuperação dos EUA empurram o dólar para cima no Brasil porque, diante da perspectiva de que o Banco Central americano vai retirar os estímulos econômicos naquele país, cresce no mercado a aposta de que haverá menos dólares para investimentos em países emergentes, como o Brasil.
É que mensalmente, desde 2009, o BC americano injeta US$ 85 bilhões na economia dos EUA por meio de recompra de títulos públicos e parte desse dinheiro se transforma em investimentos em outros países.
Com o fim do incentivo, menos recursos estariam disponíveis para esses investimentos e, diante da possibilidade de menor entrada de dólares no Brasil, o preço da moeda americana sobe.
BRASIL
Para que a economia brasileira volte a crescer de forma sustentada, na avaliação do presidente do BC, é preciso que se recupere a confiança dos consumidores e dos empresários.
A participação também do setor privado no financiamento de médio e longo prazo é um dos principais desafios do sistema financeiro brasileiro, afirmou o presidente do Banco Central. A necessidade fica ainda maior por causa do programa de concessões de infraestrutura.
Participe do nosso canal no WhatsApp
Clique no botão abaixo para se juntar ao nosso novo canal do WhatsApp e ficar por dentro das últimas notícias.
Participar