SOCIEDADE, CORRUPÇÃO E ÉTICA

*Antonio Néres

A corrupção é um tema recorrente não só no Brasil, mas também em outros países, com maior ou menor grau de intensidade.

O Brasil, por vários momentos, habituou-se com notícias de corrupção em órgãos públicos. Contudo, não é razoável imaginar que tal comportamento esteja adstrito a esse único segmento ou setor da sociedade. As notícias de desvios de recursos públicos e de outros comportamentos reprováveis dos "homens" públicos refletem as atitudes de uma sociedade que é tolerante e solícita com tais práticas. Aqui se incluem todas as camadas sociais, seja por interesse, ignorância ou omissão. Numa revisão histórica, pode-se constatar que nos diversos momentos da evolução do Estado brasileiro a corrupção esteve presente e a sociedade não apresenta ou apresentou alguma forma espontânea de insurgência.

 
Para além das práticas desvirtuadas na administração pública, na sociedade civil também somos assacados pela "lei de levar vantagem", pela qual presenciamos as mais diversas formas de comportamentos frente ao cotidiano. A proibição de fumar advinda de lei votada e posta em vigor, convivendo com o paradoxo dos incentivos públicos para a produção de fumo em alguns estados brasileiros e outros benefícios à indústria tabaqueira. Talvez daí venha o dizer: a lei que pegou ou a lei que não pegou, numa explícita alusão de que a desobediência às leis é uma prática possível e tolerada. Os controladores de velocidade que precisam de placas indicativas de sua localização, para que ninguém seja surpreendido acima da velocidade permitida. O estacionamento em fila dupla, em local proibido, mas tolerado e praticado à abundância, por que afinal é só um pouquinho, enquanto "espero meu filho/filha ou meu amigo que só foi buscar um envelope", ou por qualquer outra desculpa, não interessando o transtorno ao trânsito e às outras pessoas. O carro estacionado  com o som em alto volume - não se questionando o gosto ou mesmo o querer escutar tal música, o cachorro solto, o jogo de bola em local não apropriado, a bebedeira, porque afinal é "verão", é "final de semana", e, ainda, o lixo produzido que fica em locais inadequados, não se importando o transtorno e problemas que irá causar a outras pessoas. A "cola" na prova, como prática enraizada inclusive com a criação de jargão de incentivo "quem não cola não sai da escola".