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ARTIGO DA SEMANA

ARTIGO DA SEMANA: 'Mais um dia na grande cadeia' - por Gilberto Avelino Mendes

ARTIGO DA SEMANA: 'Mais um dia na grande cadeia' - por Gilberto Avelino Mendes

13 Fev 2017 - 08h26Por FÁTIMA NEWS COM GILBERTO AVELINO MENDES

ARTIGO DA SEMANA - FÁTIMA NEWS

por Gilberto Avelino Mendes

Era mais um dia dentro da quimera.

Tudo rotina, a quimera ama a rotina.

Ocorre que para aqueles que possuem um olhar mais observador, nas frestas desse cotidiano enclausurado pode-se perceber que existem lições para serem colhidas nesta seara de mesmice.

Até aquele momento, tudo havia sido exatamente igual.

Foi quando o casal chegou.

Sentaram-se por um instante na sala de espera que fica no saguão, não existe privacidade na cadeia.

Ficaram em silêncio, aguardavam com certa impaciência.

Perto deles, um interno fazia a limpeza do lugar, ganhando a sua remissão. Não prestava muita atenção no casal. Já havia visto uma centena deles em todos os dias que estivera ali fazendo seu trabalho. Rotina, apenas rotina de cadeia. Tudo igual.

Foi quando, lá encima, no início do grande corredor apontou um jovem.

Na distância, era apenas um pequeno vulto que, a cada novo passo, se avolumava.

A mãe olhou por primeiro. Mães sentem primeiro.

Levantou-se e chegou até onde dava para ir, o limite era as grades de ferro. Segurou-as com as duas mãos e forçou os olhos para ver melhor. Sorriu, um sorriso estranho, sua matéria prima era a ansiedade e a aflição.

O pai levantou-se, o mesmo sorriso nos lábios, a mesma estranheza na face e ficou perto da mulher, olhando para o horizonte da cadeia, vendo o filho se aproximando.

Quando ele chegou, a mãe se atirou para ele, do jeito que deu, que lhe foi possível. Abraçou-o com força sem poder sentir o calor de seu corpo, sentia na verdade, o frio insensível das grades. Entra ela e o filho, ficaram as grades, as grades que prendiam seu filho.

O pai chegou logo depois, também tentou abraçá-lo, também lhe foi impossível.

Falaram de muitas coisas no breve tempo que possuíam.

Tudo ficava inacabado, nas reticências, sem conclusões. Tinham tanto para falar e os minutos conspiravam contra eles. Tudo na cadeia possui uma relatividade ensandecida. Dentro das grandes o tempo é interminável, ali corria como um alazão pelas pradarias.

Finalmente, alguém avisou que a visita havia terminado.

O filho se despediu e tinha lágrimas nos olhos.

A mãe o abraçou com desespero como se nesse abraço quisesse arrancar o filho por entre as grades e o colocar em seu colo novamente, para consolá-lo e beijá-lo.

O pai apertou a sua mão e ele virou as costas, e retornou para sua cela, sem olhar para trás. Se o fizesse, não conseguiria subir até o seu pavilhão.

Nunca um passo seu foi tão pesado, custou um preço tão caro.

Na liberdade, nunca valorizou o pai e a mãe; em prisão, conhecia o real valor dos dois e o quanto poderia ter sido feliz se os tivesse ouvido.

Erros cobram caro.

Na cadeia, o preço dos erros é muito mais alto.

A mãe chorou. Uma lágrima se agarrando a outra e caindo de um sofrimento genuíno. Sofrimento de mãe é o mais doloroso entre todas as aflições.

O preso que limpava o local, fingiu ir pegar alguma coisa em algum lugar. Não queria que ninguém o visse chorando.

A mãe virou para olhar uma ultima vez para o filho que sumia na distância do grande corredor. Partiu, não querendo ir, sua dor se despejou em gotas pelo chão da grande quimera...

O pai seguiu a mãe, em silêncio, tentando manter uma discrição que seus olhos insistiam em não esconder.

Quando passei por eles, já quase na saída da cadeia, os olhos do pai era uma cascata de lágrimas.

Segui em frente, contristado com a visão do pai que sofria a dor do filho.

Todos os personagens desta história sofreram, uns a sua própria agonia, outros a agonia de terceiros.

A única personagem que sorria era a grande quimera.

Sua barriga adiposa farfalhava prazeres lúgubres enquanto engolia o jovem em seu estomago gigantesco.

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