Ana Carolina e Seu Jorge realizam turnê nacional 11 anos depois de álbum feito em parceria

Em 2005, a canção É Isso Aí, na voz de Ana Carolina e Seu Jorge, dominava as rádios brasileiras. A música, uma versão de The Blowers Daughter, do irlandês Damien Rice, era o maior sucesso do álbum Ana & Jorge, gravado ao vivo numa casa de shows de São Paulo.

O disco e o DVD, puxados pela popularidade da canção, tornaram-se um fenômeno. Era natural que uma turnê dos dois artistas, cantando juntos,  também estourasse pelo Brasil. Mas não foi bem assim. Não é que a turnê tenha fracassado. Ela simplesmente nunca aconteceu e as apresentações da dupla se resumiram àquelas quatro noites paulistanas.

Só agora, 11 anos depois, Ana Carolina e Seu Jorge viajam pelo país para cantar, juntos, É Isso Aí e outras canções de suas carreiras. E o público de Salvador vai poder finalmente ouvi-los nesse sábado, na tenda da Praça Sul da Fonte Nova. Às 18h, Ju Moraes faz o show de abertura e, em seguida, a dupla se apresenta.

O repertório do show será baseado no álbum de 2005, com a inclusão de sucessos da carreira solo de Ana Carolina e Seu Jorge nos anos posteriores. Os dois cantam juntos na maior parte da apresentação, com exceção de duas ou três canções que eles apresentam sozinhos. A turnê Ana & Jorge passou por São Paulo, Rio e Belo Horizonte antes de chegar a Salvador. De Salvador, segue para Brasília e depois vai para mais cinco capitais.

União artística
A mineira Ana Carolina, 41 anos, não sabe apontar com segurança as razões daquele sucesso, mas tenta encontrar uma explicação para que aquele álbum continue vivo na lembrança dos fãs: “Aquele foi um trabalho inesperado, por nós mesmos e pelos fãs. Tanto que  ensaiamos só sete dias. Foi um encontro de nossas personas artísticas. Teve também o casamento de nossas vozes e um encontro de músicos que somos. Além disso, estávamos ali cheios de garra, com ‘hormônios explodindo’ (risos)”, brinca a cantora

Seu Jorge considera o álbum um marco na sua carreira: “O DVD me inseriu no cenário da música popular e sou muito grato a Ana por aquele momento. Eu não dominava nada de música romântica e a expertise nisso era toda dela”, diz o músico de 45 anos, nascido em Belford Roxo, no Rio de Janeiro.

A inexistência de encontros dos dois artistas no palco, a despeito do sucesso do CD/ DVD, rendeu até boatos de brigas entre eles: “Havia até quem dissesse que nós nem nos falávamos, até que fiz uma participação num show dela”, lembra Seu Jorge.

O cantor reconhece que, às vezes, surgem desentendimentos entre os dois, mas isso está longe de significar um rompimento entre eles: “A nossa relação é de informalidade, porque a formalidade atrapalha a formação de um bom trabalho. Nós não temos melindre um com o outro e isso é importante para nós dois, para que eu possa ouvir as críticas dela a mim e que ela ouça as que eu tenho a ela. Nós temos personalidade e sabemos muito bem o que queremos”.

Inédita
Seu Jorge lembra que, na época em que o DVD foi lançado, tanto ele como Ana Carolina estavam com a agenda repleta de compromissos, o que inviabilizou a turnê em 2005: “Nós realmente não estávamos preparados para aquele  sucesso, então não nos planejamos para os shows. Lembro que eu tinha uns compromissos na França e tudo que a gente fez para divulgar o disco foi dar uma entrevista coletiva”.

Para a nova turnê, a dupla gravou uma canção inédita, Mais Uma Vez (Nós Dois), composta por Ana Carolina, Pretinho da Serrinha, Leandro Fab, Dudu Falcão, Gabriel Moura. “Fizemos essa música para marcar a volta. Queríamos algo pra cima e acertamos em cheio. A letra fala de parceria, de encontro, de amizade. Ela chegou mais lenta, mas o Jorge queria uma levada mais celebrativa”, diz Ana Carolina. A música está disponível nos sites de streaming.

Política
Embora o repertório daquele álbum de 2005 fosse predominatemente de canções românticas, havia também uma de tema político, Brasil Corrupção (Unimultiplicidade), cuja letra, fruto de uma parceria de Ana Carolina com Tom Zé, dizia: “Neste Brasil corrupção pontapé bundão/ puto saco de mau cheiro/ do Acre ao Rio de Janeiro/Tem sempre alguém se dando bem/ de São Paulo a Belém”. 

A coautora comenta a atemporalidade do tema: “Infelizmente, continua atualíssimo, mas acho que estamos rumando para uma reorganização moral do brasileiro. Isso seria o maior ganho do processo que estamos vivendo”.

Seu Jorge pensa em sintonia com a amiga e ressalta que o país, embora ainda sofra com a corrupção, está em desenvolvimento. Mas ele celebra a democracia: “Este momento representa o mais pleno exercício da democracia e hoje temos a possibilidade de experimentar as mais diferentes faces da política brasileira. Sim, é inegável que há uma crise, mas o que importa é que, internamente, estamos nos resolvendo. O Brasil é um país em processo de construção”.