Fátima do Sul: um solo fértil para a cultura

Professor Wagner Cordeiro - Facebook

O município de Fátima do Sul completou no dia 9 de julho seus 67 anos de fundação e 58 anos de emancipação política. É uma terra pacata, de pouco mais de 19 mil habitantes (IBGE/2020), e que tem muitos destaques em diversas manifestações artísticas. Talvez nem todos saibam, mas desde sua fundação este município possui escritores, cantores, pintores, e até cidadão que já participou, como figurante, de série da Globo.

Em 2017 fiz um levantamento a respeito dos escritores e escritoras nascidos aqui ou que adotaram este município e cheguei à quantidade de 28 que escrevem e escreveram de livros a artigos de jornais. O mais antigo deles é o saudoso Antônio José de Araújo, popular “Gim do ferro velho”, que relatou, em versos, no ano de 1974, aspectos da fundação de Fátima do Sul, além de escrever outros livros. Em seguida o pastor Paulo Carneiro publicou seu livro de poesias em 1985. A professora Marli Assunção Gomes Pereira (in memorian) escreveu um livro infantil no ano de 1989. O filósofo e biólogo Edson Barros escreveu um livro de crônicas em 1997. No ano de 1999 saíram duas publicações: “História de Fátima do Sul”, da professora Claudia Capilé, e “Caminho, Verdade e Luz”, do líder espírita João Giraldelli (in memorian).

No início do século XXI, foi a vez da professora Vandalira Nascimento publicar suas poesias em forma de livro, no ano de 2002. De lá para cá a produção intelectual de filhos e filhas de Fátima do Sul só aumentou. Na área da História temos os professores Nilton Ponciano (com livro publicado em 2012 a respeito da religiosidade na fundação de Fátima do Sul); Wagner Cordeiro (este que vos escreve, com obras publicadas em 2013 e 2016 sobre História Política de MS); a professora Ana Paula Menezes Cordeiro (que escreveu, em 2016, sobre economia na CAND, colônia que deu origem a este município); e os escritores mais recentes com livro coordenado pelo professor doutor Fabiano Coelho, da UFGD, onde constam os textos do professor fatimassulense Rafael Ramos (também a respeito da história de Fátima do Sul) e da professora culturamense Nathália Ribeiro (que discutiu a fundação daquele distrito).

Na área de linguagens, as contribuições se deram com: o poeta de Culturama Doné de Matos (in memorian), que em 2009 publicou seu livro; o farmacêutico Álvaro Lopes, por meio de escritos relacionados às lutas da vida (2010); o poeta e benzedor Getúlio Valentim, que, com ajuda da professora Elizete Pivetta, teve sua obra publicada em 2011. A professora Jackeline Marcuci que teve capítulo de livro publicado em 2013 juntamente com professoras da UFGD; o poeta Matheus Heindrickson publicou “Poeme-se”, juntamente com 2 amigos poetas, em 2014. As poetisas Stela Faustino (Fátima do Sul) e Raquel Dias (Culturama) publicaram suas obras em 2015 e 2016, respectivamente. O agente penitenciário Gilberto Avelino Mendes, em 2019, fez livro de crônicas relacionado ao cotidiano do maior presídio de Mato Grosso do Sul.

Outras publicações, de áreas diferentes, ocorreram em 2014 e 2016. O primeiro foi o livro sobre imagens e descrição de pássaros, do biólogo Thauan Thomaz, em parceria com amigo de profissão. O segundo foi do professor universitário Miguel Gomes Filho, relacionado à questão da homossexualidade. Recentemente, Fátima do Sul ganhou o intelectual e militante do movimento negro, professor Geraldo Rocha, autor de livros sobre a questão racial, e que vem contribuindo com o combate ao preconceito no município.

Existem também alguns escritores que ainda não publicaram livro, mas que contribuíram e contribuem com a reflexão através das palavras: o professor e vice-prefeito Altair Albuquerque (que publicou diversos textos a respeito de Biologia em sites locais); o professor e empresário Luciano Gazolla; o jornalista Pérsio André Roos, e o poeta culturamense José Bento Dias.

Na música, Fátima do Sul também produzia e ainda produz muitos talentos. A mais famosa das bandas foi a Blue Star, conjunto fundado em 1962 e que existiu até 1996, animando festas locais e até em outros estados. The Condor Boys e Explosão 2000 vieram depois; Contra Banda e Banda Elite (dos irmãos Pivetta); Grupo Norte e Sul (ou Bugão e Quati, como eram mais conhecidos); grupo de pagode Só Primos; o gaiteiro e cantor Fábio Cunha; grupos de vaneira, como Malícia Campeira; duplas sertanejas como Odilo e El Torero; Léo Roberto e Lindomar; Denis e Denismar; Pedrinho e Acir. Recentemente, o número de cantores tem crescido e diversos nomes surgiram: Diego e Eveline (responsáveis por abri shows de famosos nacionais como Munhoz e Mariano); Dan do Swing Baiano (que participou de quadro do Caldeirão do Huck, no ano de 2011); Cris Passos; Cássio Vinicius; Maria Eduarda; Adeilton Santana; Maysa Viana; Vitória Martins; João Catra e Juliano; Marcos Guimarães; Marcos e Henrique; Fernanda Carolina; professor Leandro Brito (na música gospel).

A professora Ively Monteiro (in memorian), natural de Ponta Porã, mas que adotou Fátima do Sul contribuiu muito para a difusão cultural por aqui. Empreendedora, criou nesta cidade, na década de 1980, uma faculdade, FIFASUL, que formou muitos profissionais que, sem dúvida, ajudam nas resoluções dos problemas deste gigante e ainda injusto Brasil.

Nas artes temos o destaque de várias pessoas: a professora de Arte Meire Kintschev que já teve seus quadros expostos em várias mostras; e outros artistas como Lucia Cordeiro, Elza Porfírio, Lygia Cristina e Nilson Pivetta; o saudoso Gentil Silveira, professor de Geografia, mas que tinha o dom de escultor, e orientou muitos estudantes em belos trabalhos; o jovem tatuador Everton de Morais, popular Truz, que, em 2009, como estudante da escola Filinto Müller, venceu um concurso de desenho da Secretaria de Educação de MS e teve sua arte exposta nos cadernos de desenho do kit escolar distribuídos em todo estado. O professor de Arte Paulo Porto fez assistência de cena na série “Dupla Identidade” e em Malhação, ambas da Rede Globo, no ano de 2014, e atualmente se destaca por liderar um grupo de teatro na cidade. Em 2019, o jovem diretor de animação Gustavo Santana ganhou destaque ao ter uma animação criada por ele utilizada em uma música de Michel Teló, e em 2020, teve um filme presente em mostra de cinema em Rondônia.

É bem possível que eu tenha esquecido de citar outros grupos musicais e outros artistas locais que ainda não conheço. Desde já peço desculpas. Por outro lado, peço que se sintam representados neste modesto texto, que não pretende esgotar a busca e a recordação de tantos talentos do município Favo de Mel.

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