Folha Online | 1 de fevereiro de 2010 - 14:38

Uso de cateter é melhor que droga contra arritmia

 
A ablação via cateter, técnica que aplica ondas de radiofrequência para eliminar focos de arritmia cardíaca, é mais eficaz do que o tratamento medicamentoso em pacientes que não responderam bem à primeira opção de remédios.

Os resultados mostram redução nos sintomas, no risco de recorrência da arritmia e melhoras significativas na qualidade de vida.

A conclusão é de um estudo multicêntrico conduzido por pesquisadores da Loyola University Medical Center, nos EUA, que acompanhou 167 pacientes com fibrilação atrial, o tipo mais comum de arritmia, ao longo de nove meses.

 A pesquisa foi realizada em 19 centros no mundo, incluindo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na fibrilação atrial, o ritmo cardíaco fica caótico e o átrio chega a bater 600 vezes por minuto. As diretrizes atuais recomendam que pacientes com a doença sejam tratados primeiramente com remédios. Caso a pessoa não responda bem, pode-se tentar trocar os medicamentos ou fazer a ablação.

"Esse é um trabalho seminal que deixa claro que vale a pena usar a ablação nesses pacientes", diz o cardiologista Ângelo De Paola, responsável pelo trabalho na Unifesp.

"Até aqui só havia estudos em centros isolados." Segundo De Paola, o estudo multicêntrico mostra a reprodutibilidade da técnica.

Ao final do período, 66% dos pacientes tratados com ablação permaneceram livres dos sintomas, contra 16% dos que receberam remédios.

Apenas 4,9% dos pacientes do grupo da ablação tiveram eventos adversos nos primeiros 30 dias -como infarto, eventos tromboembólicos, arritmias, entre outros- contra 8,8% dos que usaram medicamentos.

"As drogas antiarrítmicas ainda têm efetividade limitada", diz Maurício Scanavacca, médico-assistente da unidade clínica de arritmia do Instituto do Coração, em São Paulo.

Agora, um novo estudo vai testar a hipótese de que a ablação é superior às drogas como primeira opção de tratamento.

"A ablação para tratar a fibrilação atrial é uma técnica relativamente nova e ainda não há estudos definitivos", diz Guilherme Fenelon, presidente do grupo de estudos de arritmia cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

"Esse resultado era presumido, mas só agora começam a sair pesquisas que mostram o valor do procedimento", concorda José Carlos Pachón, responsável pelo serviço de arritmias do Hospital do Coração, em São Paulo.

Segundo os autores do estudo, as drogas têm efeitos colaterais e sua eficácia ao longo do tempo pode ser questionada.