Folha Online | 11 de dezembro de 2009 - 16:44

PMDB se irrita com Lula e cobra respeito à escolha do vice do partido

O PMDB reagiu nesta sexta-feira à afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o partido deve indicar uma "lista tríplice" para que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) escolha o candidato a vice em 2010. Irritado com as palavras de Lula, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse que o partido respeita a discussão interna do PT, mas que a recíproca tem que ser "absolutamente verdadeira".

"O PT já definiu sua candidatura à Presidência. Seus critérios e discussões internas merecem o respeito, a lealdade e a confiança do PMDB. Mas a recíproca tem, e terá, que ser absolutamente verdadeira. E o nosso partido sequer admite pensar diferente. O correto para o PMDB é o que o PMDB entender ser o correto", afirmou líder.

Em nota, Alves diz ainda que a declaração de Lula "não bate à porta do PMDB" porque fica situada em "imprevisíveis caminhos que levarão à eleição presidencial".

O líder reitera que há um pré-acordo entre o PT e o PMDB para a indicação à vice-presidência, mas afirma que a convenção nacional da legenda, prevista para março, é que definirá se a aliança vai sair do papel.

"É o debate, é a decisão democrática e soberana da convenção nacional que escolherá, ser for aprovada a aliança, o seu único candidato à vice-presidência da República. Essa prerrogativa, esse direito, por favor, ninguém tente restringir. Em respeito ao PMDB", disse.

Na nota, Alves afirma que o "grande patrimônio do PMDB" são as suas bases, lideranças estaduais e municipais.

Além de Alves, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), também reagiu à afirmação de Lula. O peemedebista encaminhou ofício nesta sexta-feira ao diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, com o pedido para que a instituição divulgue supostas "munições" que teria contra ele --em meio à Operação Caixa de Pandora, que investiga irregularidades no governo do DF.

Temer cita, no ofício, afirmação de um petista ligado à campanha de Dilma teria "bala na agulha" contra Temer.

"Essa informação teria nascido de dirigente petista insinuando que este a teria colhido na Polícia Federal. Em face dessa circunstância, requeremos a Vossa Senhoria que nos informe ou dê a público eventuais fatos comprobatórios", diz Temer.

Antes da denúncia do mensalão do DEM, Lula não havia sugerido ao partido apresentar vários candidatos para a chapa de Dilma --uma vez que o nome de Temer era dado como certo dentro do PMDB para a vice-presidência ao lado da petista.

Ontem, Lula disse que PMDB tinha todo o direito de "exigir" a vaga de vice porque é o maior partido aliado, mas não deve impor somente um nome. "O correto não é nem o PMDB impor um nome só. O correto é o PMDB discutir dentro do PMDB, indicar três nomes para a ministra Dilma para que ela possa escolher, porque isso é que nem casamento. Quem vai casar com o vice é a candidata, e você não pode empurrar pra ela alguém que não tem afinidade com ela porque aí será discórdia total", afirmou.

Questionado se o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) seriam bons candidatos a vice de Dilma, Lula disse que ainda é muito prematuro discutir nomes, "seja quem quer que seja". Porém, ressaltou que Temer e Lobão têm vida política "comprovada e aprovada".

Operação abafa

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), saiu a campo nesta sexta-feira para tentar reduzir o constrangimento gerado no PMDB pelo presidente. "Não houve nenhum tipo de encaminhamento nesse sentido e quem está conduzindo as conversas com o PMDB é o PT. Eu já liguei para o Michel Temer e para o Henrique Eduardo Alves (líder do PMDB na Câmara) e já disse que isso não corresponde à posição do PT", disse Berzoini à Reuters.

Para Berzoini, a manifestação de Lula foi "impensada" e não corresponde ao que já foi conversado entre PT e PMDB. Os dois partidos fecharam um pré-acordo que prevê a parceria na disputa presidencial.

"Chapa se compõe sempre pelo entendimento de dois lados. Nós estamos indicando a Dilma. Se eles tiverem alguma opinião em relação a Dilma, eles têm que dizer. E vice e versa. Até agora, todas as conversas são o seguinte: quem indica o vice é o PMDB", ressaltou o presidente do PT.