Terra | 17 de novembro de 2009 - 14:33

Brasil ajuda a desenvolver agricultura na savana africana

Os 35 acordos de cooperação entre o Brasil e nações africanas na área de produção de alimentos foram discutidos neste domingo (15) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros representes do governo brasileiro e de 11 países da África. Os encontros aconteceram um dia antes da abertura oficial da cúpula internacional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) sobre segurança alimentar, evento que acontece na capital italiana entre os dias 16 e 17 deste mês. Entre os acordos firmados entre Brasil e África, um deles vai transferir tecnologia para o desenvolvimento da agricultura em Moçambique.

Como o Cerrado brasileiro e a Savana africana têm condições geográficas semelhantes, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acredita que, com a tecnologia do Brasil, Moçambique pode também produzir algodão, soja, milho e outros produtos. Hoje o país africano importa a maioria dos alimentos que consome. O acordo pode ser ainda uma boa oportunidade para a indústria brasileira, já que as empresas nacionais acumulam grande experiência na produção de alimentos do Cerrado.

“A África tem um problema muito sério, passou por um período de guerra, é muito atingida por problemas meteorológicos, as secas e enchentes são muito violentas. Eles não têm infraestrutura, como espaços de armazenamento e estradas”,  explicou o presidente da Embrapa, Antonio Arrais. Ele não acredita que o desenvolvimento da agricultura da Savana africana traga problemas para o mercado brasileiro em função da competitividade. “A demanda por alimentos no mundo vai crescer muito”, defendeu. Segundo Arrais, enquanto o Brasil entra com a transferência da tecnologia, há interesse do governo do Japão em investir no projeto. Os recursos seriam de cerca de US$ 300 milhões em dez anos.

Desenvolver o agronegócio, tendo como referência o modelo brasileiro, e tornar-se independente nos setores de soja, gado de leite e cana-de-açúcar é o objetivo do país africano Burkina Faso para os próximos 10 anos. A meta foi apontada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, Alain Yoda, durante reunião com o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

“Sabemos que o Brasil é bastante desenvolvido na produção de soja, que nos interessa muito, pois o grão é útil tanto para a alimentação, quanto para a produção de biocombustíveis”, ressaltou Alain Yoda. O secretário Célio Porto sugeriu à delegação africana conhecer projeto de produção de soja implantado na Venezuela, a partir de cooperação com o Brasil. “Uma parceria da Embrapa com uma empresa privada brasileira e o governo venezuelano resultou na primeira colheita de soja naquele país, no último mês de outubro”, informou Porto.

Segundo o secretário, o resultado foi tão positivo que o modelo deve ser implantado em outros países, como foi sugerido à Burkina Faso. Na área de gado de leite, foi recomendado à delegação burquinense visitar a cidade de Uberaba (MG), região que se destaca nos setores de pecuária leiteira. “A cidade, conhecida mundialmente como centro de genética bovina, adota o modelo de criação da Embrapa”, ressaltou. Ele explica que, a partir da escolha da raça mais adequada às condições climáticas e ambientais de Burkina Faso, a criação pode ser facilmente adaptada à região.

O interesse na produção de cana-de-açúcar e etanol também foi destacado pela delegação africana. O diretor de Cana-de-açúcar e Agroenergia do Mapa, Alexandre Strapasson, citou exemplos positivos de cooperações, como o acordo com o Sudão. “Recentemente foi inaugurada uma usina de etanol naquele país, implantada a partir de acordo com empresas privadas sudanesas e brasileiras”, citou Strapasson. Com informações da Agência Brasil e Ministério da Agricultura e Abastecimento.