A. J. Rettenmaier | 22 de outubro de 2009 - 18:05

Leia a coluna Fala Sério “Vendendo o peixe!” por A. J. Rettenmaier

Vendendo o peixe!

Poucos ou quase ninguém sabe de onde saiu esta expressão, mas segundo os ditos populares ela vem ainda dos tempos medievais quando se dizia que na feira dos vilarejos a beira dos rios, se vendia o peixe, e quando se perguntava por alguém, ouvia a resposta de que devia estar vendendo seu peixe.

E parece que, uma das mais antigas profissões é realmente a do vendedor, fosse ele mascate ou estabelecido.

Só que agora, estão aparecendo algumas mentes iluminadas de palestrantes que, levados pela onda virtual espalhada pelo jeito frio de viver, propondo o fim dos vendedores, já que se pode fazer tudo pela internet. A máquina até pode ajudar, mas nada, jamais, irá substituir a inteligência humana, e principalmente, o nosso jeitinho brasileiro, embora estes iluminados achem que o que é bom para os idiotas, é bom também para nós.

Imagine você não tem mais na loja o vendedor com quem você vai pechinchar um desconto. E aquela pessoa com quem você durante os anos de contatos comerciais, acabou firmando uma certa e boa amizade, porque sempre lhe conseguia mais prazos nas faturas, também desaparecendo.

Sabe o que estas mentes brilhantes estão esquecendo? Do romantismo do bate papo vendedor-cliente, da cumplicidade nos pedidos especiais com prazos mais esticados, do quebra o galho na hora de negociar preço, e muitas outras coisas. Na certa nesta ótica inteligente, o comprador ouvirá de uma maquininha qualquer “Este prazo ou este desconto não tem registro!”

Ao entrar na loja, mercado, indústria, o vendedor na certa não dará a mão ou um sorriso ao comprador, mas dirá “Identificação! Eu sou 0089 da Automatom ao seu dispor, cliente 8.344!”

Nem adiantará convidar o vendedor a sentar. Ouvirá da figura se aceita um chá ou cafezinho, “Isto não tem registro!”

Para ele também pouco importará como você vai, por sua família, seus funcionários, e muito menos vai elogiar o crescimento de sua empresa.

E ele com isto! Não está programado para tantas futilidades. Se você quiser reclamar de alguma coisa errada no atendimento, ele também não tem registro. Aliás, você nem vai notar se a roupa dele é velha ou não, está suja ou amarrotada, e nem os sapatos sem brilho, e sua empresa é só o cliente 8.344 ou qualquer outro número. Ele é frio como a imagem da empresa que representa.

Querem saber de uma coisa? É por isso que as relações pessoais estão tendo fim!

Aliás, estes gênios nem imaginam que podem chegar em casa e ouvir de sua latinha “Hoje não estou programada para sexo!”

Bem feito!

Com licença, mas eu vou continuar vendendo meu peixe da maneira mais tradicional e antiga possível.

E a partir desta semana também com nossa “Fala Sério!” o Jornal Folha de Jandira-SP virtual. Um grande abraço aos novos amigos.

Escritor, cronista e palestrante, membro da AGEI, Associação Gaúcha dos Escritores Independentes.

Esta coluna está em mais de setenta jornais impressos e eletrônicos do Brasil e Exterior.

ajrettenmaier@terra.com.br