Bruno Peron Loureiro | 20 de outubro de 2009 - 11:13

Leia o artigo “Cultura de Acesso Vip”, por Bruno Peron Loureiro

CULTURA DE ACESSO VIP

Bruno Peron Loureiro

VIP é a sigla para “very important person” ou “pessoa muito importante” no nosso idioma. Já que PMI soa estranho e aquela é de uso comum, adoto-a neste breve texto. É lugar-comum falar delas, não? Todo o tempo estão as VIPs saindo na televisão, ou em capa de jornais, ou nas notícias da rádio. E que importaria se essa pessoa não fosse uma VIP? Se não fosse considerada assim, não daríamos a mínima.

O ponto a que quero chegar, assim logo de cara e em clima precoce de conclusão, é que a maioria dos que não são VIPs dá o sangue para sê-lo. A cultura de acesso VIP, considerando-se que se não é faz o possível para fingir que é, tomou conta da sociedade brasileira de um jeito que valeria a cabeça de quem inventou essa moda. E moda sabemos que pega.

Parte dos representantes políticos entra por porta exclusiva aos seus recintos de trabalho, faxineiros só sobem e descem por elevador de serviço em alguns edifícios, casas noturnas reservam uma das entradas aos “sócios”, negócios de maior volume furam fila em bancos e festas de famosos só se publicam mediante a passividade dos telespectadores em seu lar.

Tem mais: uso de pulseira em eventos, ambientes cercados de segurança para evitar a entrada de quem não é VIP, preços exorbitantes cobrados por bens ordinários para selecionar os frequentadores de algum local, cela especial nos presídios para quem tem curso superior, descontos só para quem tiver carteirinha de tal ou qual instituição, concessão de visto para turismo em países estrangeiros a uns e negação a outros.

Dale Carnegie, estadunidense famoso por seus livros e palestras sobre relações humanas, afirmava que todo ser humano é ávido de reconhecimento e de sentir-se importante. Ninguém gosta de ser um “zé ninguém”. O problema é quando este diagnóstico se alia a um dos aspectos da cultura brasileira de um achar que é mais do que outro só porque é fulano de tal ou porque só sobrevivem os espertos.

Está na hora de dizermos basta quando alguém furar fila e de pararmos de ser cúmplices do êxito injustificado de outrem que gozarão de bens pomposos e supérfluos às nossas custas. A expressão mais clara de ingenuidade dos “fiéis” é a construção de um império particular por uma instituição supostamente religiosa que desviou durante anos dinheiro que deveria ter fins sociais. Disso temos recebido notícias.

Ou bancamos as VIPs, ou queremos ser uma delas. Com que finalidade? Sei que é difícil mudar uma atitude que está tão infiltrada nos rincões da sociedade brasileira. Na incapacidade de ser uma VIP, dá-se um jeito. Não é o que faz o tal do “impostor” do programa “Pânico na TV”? Ele tem acesso custe o que custar. E consegue ser importante porque tem quem o legitime.

Ai dessa cultura se ela prosperar!

Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais.