Véio China | 9 de outubro de 2009 - 18:05

Espaço Literário "Encantamento" por Véio China

Encantamento
 
Ressurja e remexa os velhos sentimentos,
tente me amar como antes
Tua ausência tornou tudo tão miseravelmente igual;
cachorros e gatos se espreguiçam nos mesmos locais
e os sorrisos de crianças felizes
denotam idêntica desilusão de velhos sofridos.

Venha e restitua-me um pouco de vida
Deslize os perfumados dedos nos sulcos do meu rosto
e sorria-me com aquele teu sorriso que jamais envelhece,
pois vou sorrir para as rugas surgidas neste tempo,
e me encantar com a alvura de alguns fios dos seus cabelos:
Eu também envelheci

Ressurja e deixe que minhas lembranças retomem os caminhos do teu corpo; 
os sabores jamais esqueci
Venha já que não há o que temer
Bata à porta que saberei distinguir os delicados toques de indecisão:
Sentimentos não se aniquilam em fogueiras de frivolidades:
apenas se estacam no peito com os floretes dos generais

Venha: prometo ser aquele mesmo jovem que um dia
te possuiu sob a chuva e sobre a areia impregnada de água e sal
O mar que me exauriu apagou as marcas, as pegadas, consumiu o testemunho
Venha: dê-me a chance de estarmos a mercê da mesma tempestade
que um dia irá colorir a humanidade de um delicado e majestoso tom azul
Venha: necessitamos o desafio

Toca-me, não quero estar só quando os raios lumiarem a negra carranca dos céus de outono e os trovões bramirem esfaimados

Abraça-me quando tempestade desaguar furiosa e torrencial

Ama-me diante às bravias gotas que escorrerão sobre as tênues linhas do teu rosto : O mal maculando o bem, sem logro de êxito, revolto de agonias,
prostrado, vencido pelo encantamento da mulher