4 de novembro de 2004 - 10:45

Lula aceita pedido de demissão de José Viegas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou hoje em Brasília o pedido de demissão feito no último dia 22 pelo ministro da Defesa, José Viegas. O pedido foi feito no auge da crise sobre a identidade do homem que aparece preso no DOI-CODI em São Paulo durante o regime militar, atribuídas ao jornalista Vladimir Herzog. Quem assume a pasta interinamente é o vice-presidente José Alencar. A transmissão do cargo será feita no próximo dia 8, segundo nota oficial.

Após dias de controvérsia, em que a própria viúva do jornalista assassinado durante a ditadura confirmou que as imagens seriam dele, o homem que aparece nas fotos não foi reconhecido como sendo Herzog, segundo perícia.

Viegas deverá assumir uma embaixada no Exterior. O nome do substituto deve ser anunciado em uma reforma ministerial "pontual", conforme a Globonews, na qual serão feitas algumas mudanças e não uma recomposição inteira do minsitério.

Caso Herzog
No dia 18 de outubro de 2004, o Correio Braziliense divulgou duas fotos que seriam de Herzog em sua cela no DOI-CODI em São Paulo. As imagens seriam inéditas e reforçariam a tese de que o jornalista havia sido torturado antes de ser morto. Na única imagem conhecida até então, Herzog aparecia enforcado.

Clarice Herzog, viúva do jornalista, teria confirmado ao Correio que as fotos seriam mesmo do marido.

O Exército brasileiro divulgou uma nota oficial se posicionando sobre a divulgação das supostas fotos inéditas, que foi mal vista e duramente criticada por movimentos sociais e entidades como a Federação Nacional dos Jornais (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A nota afirma que "Á época, o Exército brasileiro, obedecendo ao clamor popular, integrou, juntamente com as demais Forças Armadas, a Polícia Federal e as polícias militares e civis estaduais, uma força de pacificação que logrou retomar o Brasil à normalidade". Afirma, ainda, "que o movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou uma retratação por parte do Exército e do ministro Viegas. Em entrevista à imprensa, no mesmo dia, o ministro da Defesa classificou a primeira nota do Exército de "inaceitável", e disse que a nova versão da nota oficial encerra o assunto sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

No dia 22, a Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com o homem que seria o personagem das fotos divulgadas pelo Correio. Seria o padre canadense Leopoldo d'Astous, pároco durante 31 anos na Igreja de São José Operário, em Brasília, que foi investigado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) de 1972 a 1974 por envolvimento com grupos de esquerda. Ele teria sido fotografado em 1974, um ano antes da morte de Herzog.

Após reunião com o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Nilmário Miranda, no dia 28 de outubro, a viúva de Herzog, Clarice, voltou atrás em suas afirmações e negou que as fotografias divulgadas fossem de seu marido.

 

 

Terra Redação