15 de outubro de 2004 - 07:20

Compra de votos, uma ‘terapia’ que subestima a democracia

COMPRA DE VOTOS, UMA ‘TERAPIA’ QUE SUBESTIMA A DEMOCRACIA

 

Demerval Nogueira*

        

         Observando o comportamento de centenas de candidatos majoritários e proporcionais nas últimas eleições de três de outubro, sinto-me pasmado ao verificar gastos vultuosos para se chegar ao topo do Poder. Esta maneira de fazer política afronta terrivelmente a sustentabilidade da tão propalada democracia em que vivemos.

         Se nas próximas eleições que hão de vir, prevalecer este mesmo tipo de comportamento havido durante as últimas eleições, com nítida e incontestável certeza, haverá um número muito pequeno de eleitores que poderão cobrar dos seus representantes, algo em prol de uma sociedade mais justa, mais humana, e com pleno direito de poder exercer o seu mais puro, sublime e irrestrito direito, que o direito à cidadania.

         O eleitor que ‘negocia’ seu voto em troca de numerário financeiro ou até mesmo através de bens materiais, não tem o direito de cobrar absolutamente nada do seu candidato após a sua eleição. Quem vende o voto, não tem o direito de cobrar, porque corre o próprio risco de receber uma resposta tipo, “seu voto eu comprei, e foi bem pago, portanto, você não tem o direito de me cobrar agora, me esqueça, deixe-me fazer agora as minhas negociatas, não tenho satisfação a dar pra você”.

         E é justamente desta forma que está sendo exercida a democracia neste País chamado Brasil. É uma vergonha ‘nacionalizada’, onde o peso financeiro está acima do bem e do mal quando se trata de uma campanha eleitoral. O fato é lacônico e estarrecedor, mas é a pura realidade da atualidade em que vivemos.

         A Justiça Eleitoral caracteriza como crime eleitoral à compra de votos e também a venda de votos sejam em troca de recursos financeiros ou transacionados através de favores onde se presume a consolidação da ‘negociação do voto’. A bem da verdade, se for coibir e punir rigorosamente o abuso praticado através do poder econômico e até mesmo o uso do Poder Público, praticado por um gigantesco número de candidatos majoritários e proporcionais que concorreram nas últimas eleições, 95% deles não tomariam posse no dia 1º de janeiro de 2005. Motivo: Crime Eleitoral.

         Mais estarrecedor ainda é vermos determinados partidos políticos, com raríssimas exceções, que ‘ontem’ pregavam uma eterna transparência e a maior lisura possível na forma de praticar a política e administrar, intitulando-se como verdadeiros arautos da moralidade pública, transparecendo ser os donos da moral e da ética, e hoje, utilizam-se das maquiavélicas e repugnantes manobras para chegarem ao Poder. Por quê será que o Poder é tão fascinante? Será que vale a pena investir de forma tão ilícita e desproporcional para chegar ao Poder? Simplesmente para afirmar que, ‘estou’ no Poder!

         Sabemos que a corrupção eleitoral vem de há muito tempo, mas não era tão exorbitante e escabrosa como observamos na atualidade. Infelizmente, parece que estamos vivenciando uma degeneração social com um grau em estágio extremamente avançado da ausência de seriedade, civismo e cidadania. Esta forma de ‘vencer’ e ‘democratizar’ está se transformando numa verdadeira escabiose. Se continuar assim, as próximas eleições serão um verdadeiro sarrabulho eleitoral ao invés de uma verdadeira festa cívica, séria e democrática.

É, infelizmente com o passar do tempo, eu não posso afirmar aquilo que afirmara outrora, ou seja, creio eu ter a autoridade dos anos, marcados por vitórias e derrotas, para afirmar com saber de experiência feito, que a democracia, é a convivência de contrários, convivência às vezes áspera e exaltada e até mesmo apaixonada pelo confronto de ácidos antagonismos. Hoje, porém, já não se faz política como antigamente. Este processo de falácias, compras de votos, prosalidades e promessas vãs, têm um custo muito elevado, elevadíssimo por sinal.

  Mas, este é o nosso ‘mundo mágico’ chamado Brasil, ‘Um País de Todos’! Será que é mesmo?

 

 

*O autor é radialista.