12 de julho de 2007 - 11:12

Oéliton Figueiredo aborda sobre o papel da Família e da Escola

IMPOSIÇÃO DE LIMITES: o papel da Família e da Escola

 

 

 

Oéliton Santana de Figueiredo*

 

 

Eu fui criado por meus avós. Na verdade, sou o que se pode chamar de “menino criado pela avó”. Dona Neném, como era conhecida, era uma senhora forte, alta, com seus pouco mais de cem quilos. Vovó não era nada parecida com essas vovozinhas boazinhas dos filmes ou com as bondosas velhinhas dos gibis.

 

Vovó se parecia mais com um tanque de guerra, um caminhão blindado, sempre pronto para o ataque. Diante das minhas travessuras não costumava falar ou dar o mesmo recado mais que duas vezes. Era uma, duas e pronto! Na terceira vez podia esperar, a surra era homérica. Os meios e instrumentos empregados eram os mais diversos: toalha torcida e molhada, cipó de macieira, rabo de tatu, enfim, tudo era válido para que eu me corrigisse ou, como dizia ela, para que eu aprendesse a “rezar conforme a cartilha”. Jamais deixei de pedir a benção a Vovó.

 

Nesse breve prólogo não se trata de apologia à violência doméstica ou coisa parecida. Não sinto saudade nenhuma daquela “reza” muito menos da cartilha da Vovó.

 

O fato é que muito tempo já se passou. Vovó se foi. Deixou saudades. Saudade de tudo, das suas manias e implicâncias, de seus conselhos e principalmente de seu afago nos raros momentos de ternura que tínhamos ao fim do dia. Vovó era uma dona de casa exemplar, não tinha tempo pra essas coisas de “chamego”.

 

Quem ama educa. Corrigidos os excessos, eu tenho que reconhecer: mesmo com tantos afazeres, Vovó sabia muito bem como amar e educar um filho - ou um neto. Mas lá se vão algumas décadas desde que Vovó partiu e de lá para cá muita coisa mudou. Novos conceitos sobre educação surgiram, a família se diversificou, a relação entre pais e filhos se viu exposta e, por diversas vezes, banalizada na novela das oito.

 

Discussões infindáveis surgem no seio da família em relação à indisciplina dos filhos, que passaram a questionar as ordens do que é aceitável ou não em suas condutas. São desencontros e choques cada vez mais freqüentes que geram conflitos e que por sua vez acabam dificultando a convivência familiar.

 

De outro lado, nas escolas, professores e orientadores queixam-se da impossibilidade de colocar limites em sala de aula e ficam confusos quanto a não permitir certas condutas inadequadas nos outros espaços escolares. Em outras palavras, essa falência de normas de conduta e de autoridade prejudica sobremaneira, não só o ensino e a aprendizagem como prejudica toda a sociedade.

 

Resta nos indagarmos o seguinte: onde foi que nós, pais e professores, nos descuidamos? Onde erramos ou, onde nos perdemos? Proponho voltarmos no tempo novamente.

 

A partir de uma primeira geração de avós, eles educavam seus filhos numa autoridade vertical: os pais falavam e os filhos ouviam e obedeciam, sem questionar se aceitavam aquilo ou não. Com isso, a geração seguinte sentiu-se muito reprimida pelo autoritarismo de seus pais, decidindo, então, modificar o sistema educacional de seus filhos. Assim, na tentativa de proporcionar aos filhos a oportunidade que não tiveram, caíram no extremo oposto. Com receio de serem considerados “quadrados” ou “caretas”, tornaram-se por demais permissivos. [1]

 

Por mais difícil que possa parecer, a melhor forma de educar é através da imposição de limites com carinho e afeto. Os pais devem ter, ou resgatar, a autoridade para impor regras e limites na educação de seus filhos. Contudo, a família – pai e mãe – tem se eximido da função-obrigação primordial de educar o filho e tem empurrado para a escola tal mister. De forma que nos dias atuais, é a escola que tem procurado cumprir com a obrigação primordial da família. São os professores que tem procurado suprir o papel e a obrigação que os pais têm de educar sua prole.

 

Por medo, receio ou omissão, Nós, pais, não devemos nos tornarmos demissionários de nossas funções de educar, orientar e conduzir nossos filhos, na medida certa, a fim de situá-los como cidadãos com direitos e obrigações no mundo no qual estão inseridos.

 

Limites e regras claras de convivência são fundamentais na construção