12 de junho de 2007 - 05:40

Hábito de comer no trabalho pode virar doença

Estresse, ansiedade e excessiva cobrança profissional são situações comuns em ambientes de trabalho. Para aliviar problemas como esses, enchem-se gavetas com balas, barras de chocolate e pacotes de biscoitos. Gula ou compulsão alimentar? Algumas vezes, o hábito de comer guloseimas durante o horário de trabalho se transforma em um distúrbio, caracterizado pela ingestão descontrolada de alimentos.

A técnica de enfermagem Rosângela Ferreira, 32 anos, sempre gostou de comer e levou tempo para perceber que seu caso era mais grave: "Demorei para descobrir que eu era compulsiva. Achava que eu era como as outras pessoas, que gostam de comer e às vezes passam dos limites". Rosângela, que já está com o problema controlado, tinha o seu distúrbio intensificado durante o expediente: "No hospital, eu chegava a guardar parte da comida que davam para os funcionários para comer mais tarde. Nos horários de visita dos pacientes do CTI, eu me ausentava para ir no vestiário comer escondida. Eu comia sem ter fome e sempre que o plantão estava mais agitado eu comia além do normal", lembra.

De acordo com a psicóloga Yara Daros, a compulsão alimentar no trabalho é resultado da excessiva busca pelo perfeccionismo: "A cobrança de não poder errar gera angústia e ansiedade. O alimento se transforma em um objeto de sustentação para amenizar esses sentimentos". Segundo a especialista, o alimento deve ser visto apenas como fonte de nutrientes, e não como uma fuga. "Quem trabalha comendo não degusta nem saboreia o alimento, está apenas aliviando momentaneamente uma tensão. O cérebro desenvolve uma dependência e passa a relacionar essas atividades à necessidade do alimento", explica.

Nem todos os casos, porém, estão relacionados à compulsão alimentar. Para a nutróloga e coordenadora de nutrologia do Cremerj, Mônica Hissa, o hábito de comer nos momentos de tensão é comum, principalmente nas pessoas que são novas no mercado de trabalho e tendem a ficar mais ansiosas. Além disso, os novatos não estão habituados a ritmos mais intensos. "Antes de começar a trabalhar, o jovem tem tempo para fazer as refeições, não está acostumado com a correria", pondera a especialista.

A estagiária Amanda Schuab, 21 anos, trabalha em uma agência de publicidade há seis meses. Em sua primeira experiência profissional, as guloseimas a acompanham no dia-a-dia: "Toda semana eu e uma amiga compramos biscoitos, balas e chocolates para estocar. Quando estou cansada ou irritada, comer é uma ótima maneira de me distrair". Desde que começou a trabalhar, a jovem já engordou 1,5 kg. Amanda até se preocupa com a silhueta, mas não resiste ao "alívio" que a comida proporciona.

A estudante faz parte de uma "multidão" que sofre de estresse no trabalho. Uma pesquisa realizada pela representação da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) concluiu que 70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem de estresse e que 74% deles apontam o trabalho como a principal causa. De acordo com a presidente da ISMA-BR, Ana Maria Rossi, a sobrecarga profissional é um motivo maior de estresse do que a violência imposta em várias regiões do País.

Com o dia-a-dia cada vez mais corrido e estressante, é difícil deixar de comer guloseimas entre uma reunião e outra. Segundo Mônica, o segredo está na substituição dos alimentos. "O chocolate pode ser substituído pelas barras de cereal, os biscoitos recheados, pelos cookies integrais, e o famoso cafezinho pode ser trocado pela água de coco", sugere a nutróloga.
 
 
 
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