19 de dezembro de 2006 - 07:45

Brasil chega à marca de 100 milhões de celulares

 Algumas pessoas talvez não se lembrem, mas o celular já foi considerado artigo de luxo. Quando foi lançado no País, em novembro de 1990, pela estatal Telerj, no Rio de Janeiro, cada cliente precisava depositar uma garantia de US$ 22 mil para ter acesso ao serviço.

De lá para cá, muita coisa mudou. A competição e a evolução tecnológica fizeram cair os preços, transformando o telefone móvel num instrumento de inclusão social. Existem aparelhos em oferta nas lojas por preços a partir de R$ 1. Oitenta e um por cento dos clientes são pré-pagos, a modalidade de telefonia mais acessível à população de baixa renda.

Até o fim do ano, os telefones móveis em uso vão somar os 100 milhões no País, número que representa duas vezes e meia o total de telefones fixos. Com três ou quatro operadoras competindo na maioria dos mercados regionais, o celular proporcionou a universalização da telefonia nas cidades em que está presente. No fim do ano passado, já estava presente em 59,3% das residências brasileiras, comparado com os 47,6% da presença do telefone fixo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O mercado deve crescer 17% este ano e 13% em 2007. Bem abaixo dos 31% verificados no ano passado e dos 41% em 2004. “Um mercado que está se tornando cada vez mais importante é o das pessoas que trocam de operadoras”, afirmou Mario César Pereira de Araújo, presidente da TIM Brasil, segunda maior operadora do País.

“Quando houver a portabilidade numérica, vai haver um grande impulso. Muitos clientes não trocam de operadora porque não querem perder o número”, observou. A portabilidade permitirá manter o número ao trocar de operadora.

“O celular continua sendo um dos grandes objetos de desejo do consumidor”, disse João Cox, presidente da Claro, a terceira maior do País. Para os fabricantes, o mercado de reposição de aparelhos se torna cada vez mais importante.

Em 2007, devem ser vendidos 41,6 milhões de celulares, sendo dois terços para substituir aparelhos antigos de quem já é cliente das operadoras.

A maioria dos clientes potenciais, hoje, está nas classes C , D e E. As operadoras enfrentam o desafio de continuar crescendo e, ao mesmo tempo, melhorar os resultados. O importante, no caso, é manter o cliente. “A lógica é a de uma financeira”, explicou Cox. “Quando vende, a operadora tem um prejuízo por causa do subsídio dos aparelhos. Na verdade, está comprando o fluxo de caixa dos clientes.”

Um dos indicadores-chave dessa indústria é a receita média mensal por assinante. Ele está em R$ 23. Apesar do baixo poder aquisitivo dos novos clientes, compensa continuar crescendo, na visão de Roberto Lima, presidente da Vivo, maior operadora celular do País.

“Quanto mais clientes, é mais provável que as ligações aconteçam na própria rede da operadora, entre seus clientes”, explicou o executivo. “As chamadas que acontecem na própria rede são mais rentáveis.”

Quando a ligação acontece entre telefones de operadoras diferentes , a empresa do cliente que originou a chamada tem que pagar para a que recebe uma tarifa de interconexão, pelo uso da rede.

O celular pré-pago teve um papel importante na universalização da telefonia, no que diz respeito ao atendimento de clientes de baixa renda. A universalização geográfica, no entanto, ainda depende do telefone fixo. Somente 57% dos municípios brasileiros são atendidos hoje pela telefonia móvel.“As concessionárias fixas têm a obrigação de atender às localidades menores, que precisam cumprir para sempre”, explicou Alain Riviere, vice-presidente de assuntos regulatórios da Telemar. “É difícil o celular chegar a esses lugares no médio prazo.”