8 de dezembro de 2006 - 15:57

Ana Carolina se excede ao cantar amor e sexo em CD

Sob a batida áspera da bateria de Jean Dolabella, Ana Carolina discorre sobre os sentimentos de um assassino que acaba de sair da cadeia. Destaque entre as 23 músicas do CD duplo Dois Quartos, nas lojas a partir de hoje, O Cristo de Madeira mostra que a cantora e compositora busca renovar seu repertório passional.

Em Dois Quartos, Ana se debate entre a necessidade artística de ousar e o compromisso de fazer músicas para as paradas, como Rosas, já nas rádios.

A dualidade da intérprete está traduzida nos excessos do repertório. Ana poderia ter feito um grande disco se tivesse sido mais rigorosa na seleção das músicas. Em vez disso, ralentou sua inspiração em dois CDs subintitulados Quarto e Quartinho, sem a salutar variedade de parceiros exibida no anterior Estampado (2003).

O maior mérito do álbum é o canto de Ana, mais dosado, menos gritado. A intérprete acertou ao abaixar o tom. Em registro mais suave, ela canta músicas que falam de amor, sexo e política. "... E outros descalços / fazendo sapatos / Pros nobres e ratos", indignam-se os versos de Nada Faltará, faixa que tem intervenção do africano Lokua Kanza.

Em esfera mais pessoal, porém igualmente política, o sexo explode nos versos quentes de Cantinho e Eu Comi a Madona (esta com direito a remix dispensável do DJ Zé Pedro).

Mas Ana, em essência, é cantora e autora de baladas confessionais. E elas jorram em profusão em Dois Quartos, embaladas com arranjos de cordas. Ruas de Outono, Aqui, Claridade, Eu Não Paro e Corredores são canções que acabam deixando o CD repetitivo.

É preciso garimpar o repertório para achar o ouro e constatar o brilho do tango pop Manhã, do tema instrumental Sen.ti.mentos e da abolerada Tolerância.

Há ainda os sambas, mas Chevette (de ritmo marcado no pandeiro) e o bossa-novista Milhares de Sambas sequer roçam a genialidade de Vestido Estampado, do CD anterior. Entre faltas e excessos, Ana Carolina reafirma personalidade e talento.

 

O Dia