1 de agosto de 2006 - 07:27

Sanguessugas: Sarney é envolvido; CPI incrimina PT-CE

O empresário Luiz Antonio Vedoin, da Planam, citou os nomes do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-PA), além do senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO), no esquema da máfia dos Sanguessugas - que direcionava emendas parlamentares para a compra de ambulâncias superfaturadas. Apesar de não haver denúncias contra os dois, eles foram citados no depoimento de Vedoin à Justiça Federal. O empresário também entregou um documento que confirma a movimentação de R$ 867,8 mil nas contas de José Caubi Diniz e Raimundo Lacerda Filho, apontados como intermediários de José Airton Cirilo, ex-presidente do PT no Ceará e membro do Diretório Nacional do partido.

O ex-presidente José Sarney negou envolvimento no esquema, "Não sei por que meu nome está aí nesse negócio de ambulância", reagiu Sarney. De acordo com O Estado de S. Paulo, Vedoin disse que pagou propina a um servidor da Secretaria de Saúde do Amapá, Alessandro Villas Boas, pelo direcionamento de emenda de Sarney, de R$ 240 mil, para unidades móveis de saúde. Sarney rebateu dizendo ter ouvido do governador do Amapá, Waldez Góes, que Villas Boas não é servidor do Estado.

Sarney afirmou ainda que quem é responsável pelo encaminhamento de emendas é sua assessoria no Senado. No Orçamento de 2004, segundo seu gabinete, há duas emendas de R$ 240 mil em favor da prefeitura de Macapá e do governo do Estado para compra de "ambulanchas" (lanchas usadas para assistência médica dos ribeirinhos). Sarney afirmou que, se houve desvio, foi à sua revelia, e negou ter recebido pedido do senador Ney Suassuna (PMDB-PB) para impedir que o Tribunal de Contas da União investigasse a Planam no Amapá. Segundo o Estado, grampos mostram pessoas comentando que Suassuna teria feito o pedido.

O nome do senador Siqueira Campos é citado no depoimento quando Vedoin informa que seu assessor Luiz Paulo estaria negociando veículo para um deputado. Siqueira disse que desde 2000 não encaminhou emenda para ambulâncias e vai ouvir o assessor para saber o que ocorreu.

Propina
Documentos entregues por Vedoin à Justiça Federal mostram depósitos mensais de valores nas contas de José Caubi Diniz e Raimundo Lacerda Filho. Os valores comprovam que os dois receberam de uma só vez até R$ 56 mil. O total de depósitos somaria R$ 867,8 mil, segundo o Estado.

De acordo com Vedoin, os dois se apresentavam como representantes de Cirilo junto à Planam. Até passagens aéreas emitidas pela Aeroway Turismo eram pagas pela quadrilha. Em depoimento à Justiça, Vedoin afirmou que o pagamento atribuído a Cirilo seria resultado de acerto para que o então ministro da Saúde, Humberto Costa, liberasse R$ 8 milhões para a Planam pelo pagamento de cem ambulâncias compradas no final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

O empresário disse que entregou as ambulâncias em setembro de 2002, mas não recebeu pagamento. Ele teria iniciado uma negociação com o ministro, mas o dinheiro só foi liberado em 2003, primeiro ano do governo Lula, em articulação que teria envolvido o Ministério da Saúde.

Lacerda Filho e Diniz teriam entrado no esquema como representantes de Cirilo para vender facilidades. A negociação teria ocorrido na ante-sala do gabinete do ministro. Pelo acordo, ficava para Cirilo o papel de convencer o ministro a liberar o dinheiro.

Vedoin disse que os intermediários citaram o nome do chefe de gabinete do Ministério da Saúde, Antônio Alves, homem forte da gestão Humberto Costa. Afirmou, também, que pagou R$ 22,4 mil em despesas de hospedagem para Antônio Alves e outras seis pessoas ligadas a ele. Alves nega.