24 de julho de 2006 - 13:18

Mais de 300 brasileiros deixam o Líbano por terra

Um grupo de 305 cidadãos brasileiros conseguiu sair hoje do Vale do Bekaa, no leste do Líbano, em direção a Damasco, na Síria, numa retirada organizada em conjunto por representações diplomáticas brasileiras no Oriente Médio e os moradores da região. Os primeiros seis ônibus com 195 pessoas saíram do Vale do Bekaa às 8h20 hora local (2h20 em Brasília) e outros quatro veículos com 110 passageiros deixaram a região às 15h (9h em Brasília).

"No fim das contas, tivemos um número bem menor de pessoas pegando os ônibus do que o esperado. Acreditávamos que mais de 800 pessoas iriam tentar sair nesta segunda-feira, mas apenas cerca de 300 apareceram", disse o cônsul-geral do Brasil em Beirute, Michael Gepp.

O diplomata disse que o Brasil teve que ser "duro" em contatos com o governo de Israel e dos Estados Unidos para garantir que os ônibus pudessem viajar do Bekaa até a Síria pela rota mais curta.

"Propusemos um caminho aos israelenses em que a viagem demoraria de 15 a 20 minutos, mas eles queriam que fizéssemos um caminho pelo norte do Líbano que resultaria numa viagem de 15 horas, expondo os brasileiros ao risco de passarem por cidades onde há bombardeios constantes acontecendo".

Guerra
O diplomata afirma que teve que insistir muito e envolver o ministro Celso Amorim para conseguir dos israelenses garantias de que o comboio brasileiro não seria atacado. "Liguei para Brasília e disse que se nossos veículos fossem agredidos por Israel, teríamos, na pior das hipóteses, que declarar guerra aos israelenses".

O cônsul relata ainda que o ministro Amorim conversou diretamente com a secretária de Estado americana Condoleeza Rice para buscar garantias de segurança para os brasileiros.

"O ministro Amorim teve uma atitude muito forte e correta e disse a Condoleeza Rice que isso poderia ter um impacto muito negativo também nas relações entre Brasil e Estados Unidos".

Multa
Michael Gepp disse que o consulado continua cadastrando brasileiros interessados em deixar o Líbano e que mais ônibus devem sair de Beirute na próxima quarta-feira. O diplomata não soube explicar, no entanto, por que apenas pouco mais de um terço dos brasileiros que haviam manifestado intenção de viajar nesta segunda-feira efetivamente apareceu para tomar os ônibus.

"Há muita gente confusa, que não sabe direito se quer sair ou se quer ficar", disse ele. A saída pela fronteira do Líbano foi lenta e complicada, porque 13 dos brasileiros que viajavam no primeiro ônibus estavam em situação irregular no Líbano e teriam que pagar uma multa equivalente a US$ 40 para sair do país.

"O problema é que muitos deles são pessoas pobres e que não tinham dinheiro para isso. Entramos em contato com o Ministério do Interior do Líbano e o governo brasileiro se comprometeu e pagar essa dívida depois caso seja necessário", disse o cônsul.

Em Damasco, os brasileiros vão ficar em abrigos comunitários organizados pelo consulado na Síria, enquanto aguardam a retirada do Oriente Médio.

Um vôo da TAM deve chegar na quarta-feira a Damasco para levar as pessoas de volta ao Brasil.

 

BBC Brasil