5 de julho de 2006 - 14:30

Tesoureiro quer mudar campanha de Lula para evitar caixa 2

Sucessor de Delúbio Soares, o prefeito licenciado de Diadema, José de Filippi Júnior, afirmou nesta quarta-feira, em sua primeira entrevista como tesoureiro, que mudanças serão promovidas na forma de captar e gastar recursos na campanha deste ano para impedir a prática de caixa dois na disputa pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Convidado pelo presidente Lula para assumir o cargo, Filippi disse ter resistido a aceitar a incumbência de arrecadar recursos para a campanha presidencial deste ano. Chegou a sugerir outros nomes, de acordo com ele, mais competentes para a função, mas acabou aceitando a incumbência.

"Fiquei sem dormir três dias", afirmou. "Substituir o Delúbio, ser comparado com o PC [Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Fernando Collor]... A história desse cargo não é muito boa", disse o tesoureiro. "Espero fazer diferente porque a democracia precisa evoluir nesse aspecto [de financiamento de campanha]", acrescentou.

Para corrigir as irregularidades, o PT promoverá mudanças na utilização, arrecadação e contabilização dos recursos. Uma das principais alterações é a partilha da responsabilidade pela captação de recursos entre a coordenação política e o tesoureiro. No passado, Delúbio Soares teve autonomia para fechar contratos e pedir empréstimos.

O partido também não vai repassar recursos para os partidos aliados como fez em 2002 sem contabilização legal do dinheiro. O PTB, PP e PL receberam recursos de caixa dois para supostamente pagar despesas de campanhas estaduais e material da campanha nacional --no caso do PL, por exemplo.

Neste ano, o PT poderá fornecer material de campanha para as campanhas de aliados, mas só repassará dinheiro às campanhas locais do próprio partido. "Isso é um critério", afirmou o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

A coordenação da legenda pode também divulgar dados referentes à arrecadação de recursos na internet, inclusive com o nome do doador. No entanto, isso ainda passará por estudo interno para que os colaboradores não passem por constrangimentos.

Outra mudança será a redução dos gastos de campanha. Já proibidos por lei, os partidos não poderão realizar showmícios, por exemplo, ou distribuir santinhos. Isso evitará, de acordo com Filippi, gastos desnecessários. "Fomos tendo esse descuido de contratar artistas, pagar muito material", afirmou. "O eleitor não precisa ter muita coisa para decidir seu voto", completou Berzoini.

Com tudo isso, Berzoini e Filippi esperam poder explicar, depois da campanha, todas as contas do partido, coisa que Delúbio não pôde fazer. "O que queremos é fazer uma campanha que, a qualquer momento, eu e o Filippi, onde estivermos, possamos ter tranqüilidade para prestar os esclarecimentos sobre o que fizemos", afirmou Berzoini.

"Nós sempre dissemos que esse fenômeno sempre foi tratado com muita leniência. O que precisamos é ter a clara definição de que vamos trabalhar nos limites do lei. Caixa dois é ilegal", acrescentou o presidente do PT. "Não vamos fazer caixa dois", completou Filippi.

Gastos - O PT estipulou um limite de R$ 89 milhões para os gastos com a campanha nos dois turnos das eleições de outubro. O partido espera, porém, que o orçamento seja inferior.

Em 2002, o gasto da campanha presidencial foi de R$ 39,3 milhões (referentes a despesas do comitê financeiro nacional e dos gastos do candidato), e o teto declarado foi de R$ 56 milhões.

O valor estipulado pelo PT é próximo aos R$ 85 milhões que serão declarados ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin.

 

 

Folha Online