Agência Brasil | 22 de outubro de 2019 - 06:36 CRISE NO CHILE

Chile tem maior revolta social das últimas décadas; bolsa de Santiago cai mais de 4%

Bolsa de Santiago caiu 4,6% e dólar subiu quase 2% frente o peso chileno com investidores repercutindo protestos violentos no país

O Partido dos Trabalhadores manifesta sua solidariedade ao povo do Chile

A capital do Chile, Santiago, foi marcada por protestos no último fim de semana, que prosseguem nesta segunda-feira (21). Depois dos confrontos terem feito, pelo menos, onze mortos, o governo chileno declarou estado de emergência nas cidades do norte e sul do país, nesse domingo (20).

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou que o país está “em guerra” contra os “criminosos” responsáveis pelos protestos violentos que começaram na sexta-feira (18).

“Estamos em guerra contra um inimigo poderoso e implacável, que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites, mesmo quando isso significa a perda de vidas humanas, com o único objetivo de causar o máximo de dano possível”, disse Piñera.

PApesar da declaração de Piñera sobre o país estar em guerra, o general do Exército Javier Iturriaga, responsável pela ordem e segurança em Santiago, afirmou hoje (21) que “não está em guerra com ninguém”.

O senador de oposição, Ricardo Lagos Weber, também se manifestou contra a afirmação do presidente. “Presidente Sebastián Piñera, não assuste os cidadãos! Não estamos em guerra. Enfrentamos uma crise política, mal conduzida pelo Governo, cujo tema de fundo é a desigualdade. Essas declarações não ajudam a criar um clima de entendimento”, disse, na noite de ontem (20).

O balanço da revolta social é sem precedentes desde o retorno da democracia ao Chile, em 1990.

Uma fábrica de roupas foi alvo de roubos, no norte de Santiago, com cinco mortes.

A prefeita da região metropolitana de Santiago do Chile, Karla Rubiar, confirmou hoje (21), em uma coletiva de imprensa, que o número de mortos nos confrontos subiu para 11. A polícia chilena (Carabineros de Chile) informou que 819 pessoas foram detidas ontem (20) e que 67 policiais foram feridos. Desde o início dos confrontos, mais de 1400 pessoas foram detidas.

Os manifestantes, de cara coberta com capuzes, envolveram-se em violentos confrontos com polícias na Praça Itália, centro da capital, tendo as autoridades tentado dispersar as pessoas com gás lacrimogêneo e jatos de água.

Os protestos contra o governo começaram na capital, mas já se estendem a outras cidades. A situação eclodiu quando o governo anunciou um aumento de 30 pesos na tarifa do metrô, o que corresponde a cerca de R$ 0,20.

Na sexta-feira, a violência aumentou com protestos após confrontos com a polícia. Já no sábado, o Chile decretou estado de emergência por 15 dias, com a ida do Exército às ruas pela 1ª vez desde a ditadura.

O presidente chileno suspendeu o aumento na tarifa do metrô, mas os protestos continuaram, com fechamento de estações do metrô, escolas e com voos suspensos no aeroporto da capital.

Sebastián Piñera diz que compreende que os cidadãos se manifestem, mas que considera “verdadeiros criminosos” os responsáveis pelos incêndios, as barricadas e pilhagens, assim como pelos mortos e feridos.

Os manifestantes alegam a degradação das condições sociais e as desigualdades, uma vez que as áreas da saúde e da educação são quase totalmente controladas pelo setor privado.

O estado de emergência permanece em vigor na capital e em outras regiões do país, com a mobilização de mais de 10 mil policiais.

Nesta segunda-feira, manifestantes voltaram a ocupar as ruas de Santiago, na segunda jornada de protestos após o toque de recolher imposto pelo governo, além de atos em outras cidades do país.

Algumas estações da linha 1 do metrô de Santiago voltaram a funcionar, mas ainda há pontos fechados na região central da capital chilena. Já escolas de 48 comunas – tipo de região administrativa chilena – permaneceram fechadas nesta segunda-feira.

Efeitos no mercado

Em meio à onda de protestos, a Bolsa de Valores do Chile fechou mais cedo, às 14h (horário de Brasília), em baixa de 4,6%, a 4.953 pontos, registrando o pior desempenho diário desde 20 de novembro de 2017.

A Bolsa de Santiago informou que o pregão de terça também terá o mesmo horário de fechamento.

Já o peso chileno teve desvalorização frente ao dólar, com a divisa americana registrando alta de 1,96%, a 725,77 pesos. Enquanto isso, o título do governo de 30 anos teve alta de 1,73%, a US$ 3,09, e o Credit Default Swap (CDS) de 5 anos, considerado um seguro contra calote, subiu 8,5%, após a alta de 4,6% na sexta.

Conforme destaca o Deutsche Bank, o impulso das reformas do governo no Chile – com planos de reforma tributária, previdenciária e trabalhista – provavelmente será interrompido e o Presidente Sebastian Pinera terá que recalibrar a direção de sua agenda.

Na avaliação do economista Felipe Labbe, os protestos têm um “sério impacto político” e a incerteza da administração e da política econômica de Piñera pode aumentar. O presidente chileno pode ter que substituir membros importantes de seu gabinete e os eventos políticos moldarão as discussões do Congresso.

Os protestos também afetarão a atividade econômica no curto prazo, não apenas pela piora sentimento, mas também porque o sistema de transporte de Santiago e empresas locais sofreram sérios danos, aponta Labbe.

Na mesma linha, a agência de classificação de risco Moody’s apontou que, enquanto é prematuro estimar como os protestos afetarão a economia, eles representam um risco adicional a ser considerado, o que pode levar a economia chilena a crescer abaixo de 3% em 2020.

Após Peru, Argentina e Equador, agora o Chile é um fator adicional de risco na América Latina. E, vale ressaltar, no próximo fim de semana haverá eleições na Argentina – que também deverá chamar a atenção dos investidores.