Campo Grande News | 24 de setembro de 2019 - 15:01 ERA DIGITAL

Jornal impresso mais antigo de MS, O Progresso circula pela última vez na 6ª feira

Pesquisador acredita que jornais impressos perderam o encanto e tendência do fim do papel está consolidada em MS

Leitor olha capa de O Progresso desta terça-feira; jornal circula pela última vez na sexta-feira (Foto: Adilson Domingos)

O Jornal O Progresso, fundado em 1951 pelo ex-deputado federal Weimar Gonçalves Torres, vai fechar. Com sede em Dourados, a 233 km de Campo Grande, o jornal já foi um dos três mais influentes de Mato Grosso do Sul, mas circula pela última vez na sexta-feira (27).

A reportagem apurou que o comunicado foi feito ontem (23) por uma das diretoras, Blanche Torres, filha da matriarca da família, Adiles Amaral Torres, à frente da empresa desde 1982. O marido dela, Weimar Torres, morreu em acidente aéreo, em 1969.

Ao Campo Grande News, Blanche negou um encerramento tão "breve", mas a informação  obtida pela reportagem indica a migração para on-line, caminho cada vez mais seguido pelos veículos que não querem "morrer".

Análise - O jornal impresso perdeu o encanto. Ficou para trás por não saber agregar o novo. É a análise do diretor-presidente do instituto de pesquisas Ibrape, Paulo Catanante. Para ele, as empresas dedicadas ao jornal de papel têm dificuldade de acompanhar os novos recursos trazidos pelas versões on-line, como texto às vezes mais enxuto e sempre atualizado, além de material audiovisual.

A barreira, aponta, é maior para meios do interior. Catanante fala do assunto com a experiência de quem está desenvolvendo pesquisa sobre mídias em Mato Grosso do Sul. Em Dourados, cita, jornais impressos são lidos apenas por 1 a cada 246 adultos. O diretor do instituto acredita que a consolidação da internet como meio de comunicação de massa, seja dos jornais on-line ou das redes sociais e aplicativos, é muito maior no interior.

“É um índice totalmente insignificante", diz, em relação ao número de leitores do modelo impresso em Dourados. "Na verdade, primeiro o jornal impresso foi substituído pelas informações nas mídias sociais e sites de notícias, e segundo que as matérias são atrasadas. A sabedoria do leitor já não busca informação no impresso porque já busca informação nas nuvens”, comenta.

O diretor também afirma que o leitor, hoje, quer ser estimulado. “O impresso já não é mais empolgante. Fizemos pesquisa em Dourados e uma das reclamações é que não tem mais notícia instantânea”, diz.

Credibilidade – Para o pesquisador, outra questão é a credibilidade. Paulo afirma que o impresso não consegue atualizar a informação. O levantamento em Mato Grosso do Sul mostrou ao diretor que os leitores desenvolveram a prática de checar na internet as informações que leem nos jornais impressos.

“Não tem atrativo, e, além disso, não tem a credibilidade que tem as notícias de sites, devido ao atraso. A tendência é os sites de notícia substituírem os jornais impressos. Quando alguém lê, vai confirmar a notícia que leu em jornais on-line. Os melhores textos, as melhores fotos, estão no online”, avalia.

Outro dado da nova pesquisa do instituto, afirma Catanante, é que apenas 10% do conteúdo dos jornais impressos são lidos. “As pessoas não conseguem ler 10% do conteúdo do jornal, não está tendo conteúdo inteligente para chamar atenção. Principalmente no interior”, analisa.

O diretor afirma que em Dourados, em dois anos, o acesso diário à internet aumentou de 38%, em 2017, para 68% em 2019.

Edição de hoje de O Progresso em banca localizada em frente à sede do jornal, na Presidente Vargas (Foto: Adilson Domingos)

O Progresso - O jornal circula em Dourados e outras cidades da região, com correspondente e assinantes em Campo Grande. No discurso que fez ontem aos funcionários, Blanche Torres atribuiu a desativação da versão impressa à crise financeira que atinge os jornais impressos do país e sinalizou com a possibilidade de retorno em 2020. Entretanto, funcionários presentes na reunião afirmam acreditar ser difícil o impresso voltar a circular. "Estamos arrasados", disse um deles ao Campo Grande News, pedindo anonimato.