Vinny Santos | 12 de julho de 2018 - 07:30 Investigação - MPE-SP

MP-SP em investigação desvenda articulação do PCC em MS

GAECO fez com autorização da Justiça interceptações telefônicas, onde membros do PCC em MS manda matar e decapitar um possivel membro do CV (Comando Vermelho)

(Foto: Reprodução)

Membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) de Mato Grosso do Sul vivem o início de uma guerra com a força do grupo rival CV (Comando Vermelho) e o desejo de dominar o Estado que poderia ser estratégico para a organização. Essas são as informações da denúncia do MPE-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) apresentada na última quinta-feira (5).

Segundo o MPE-SP, durante as investigações iniciadas em março de 2017, que se estendeu por todo ano e indiciou 75 pessoas supostamente ligadas ao PCC, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) interceptou ligações telefônicas de um homem de 35 anos suspeito de integrar a “Geral do Estado do Mato Grosso do Sul”.

Segundo as investigações, a função do indiciado era comandar os “TRIBUNAIS DO CRIME” e articular a disputa entre PCC e Comando Vermelho no Mato Grosso do Sul. O Estado é importante para a organização criminosa devido à proximidade com Paraguai, Bolívia e do presídio onde está a cúpula da facção.

As investigações ainda apontam que um homem de 32 anos exercia a função de “resumo geral disciplinar”, responsável pelos Estados do Sul do país, além de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Após o fim das investigações, no dia 10 de maio deste ano, ele foi preso no Aeroporto de Guarulhos, voltando de Camaçari, na Bahia.

Em uma das interceptações, o indiciado posteriormente preso teria comentado sobre a necessidade de expansão do PCC no Estado que é dominado pela facção rival Comando Vermelho. Conforme a denúncia, o suspeito diz que em uma parte com 500 bairros do Mato Grosso do Sul, 20 eram dominados pelo Primeiro Comando da Capital.

Um exemplo de como o integrante do "resumo geral disciplinar" lidava com os integrantes de facção rival no Mato Grosso do Sul, conforme consta na denúncia, foi captado em uma ligação de quase sete minutos, por volta das 12h do dia 28 de setembro de 2017. Um integrante da facção criminosa em Dourados liga para o homem responsável pelo Estado, e informa que está com um membro do Comando Vermelho em mãos.

Depois de pedir para confirmar se o homem era mesmo integrante do CV, o responsável pelo PCC no Mato Grosso do Sul dá a ordem:

"- Mano, faz um vídeo e ranca a cabeça dele fora. Eu quero que ranca a cabeça dele fora", disse o homem, de acordo com as informações da denúncia do MPE-SP.

Momento depois, com outras pessoas participando da conversa via conferência telefônica, o grupo criminoso planeja o que fazer com o corpo. E o indiciado faz a análise do crime:

"- Da hora, da hora. Vamos para bala, vamos pegar o próximo agora (risos)", consta na denúncia.

De acordo com o promotor do Gaeco de Presidente Prudente Lincoln Gakiya, responsável pela investigação, nomes do considerado “segundo escalão” do PCC ganharam mais força na facção depois da transferência da cúpula geral para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), em Presidente Bernardes. No entanto, em nenhum momento a autonomia da cúpula da facção e a independência dos integrantes do grupo nos Estados foram colocados em disputa.

Com os principais nomes da facção isolados, outros sete homens assumiram a liderança do PCC, integrando a chamada “sintonia final dos Estados e países”. Os nomes, segundo o promotor Gakiya, foram indicados pelo apontado como líder máximo da facção, Marcos Willian Herbas Camacho, o Marcola.

Depois desses sete indiciados, outros grupos da divisão interna da facção atuavam em diversos Estados brasileiros, com intuito de manter ou conquistar a hegemonia no comércio de drogas. Todas ações do PCC eram alinhadas e autorizadas pela cúpula geral da facção, que estava em prisão isolada.

Essas investigações do PCC aconteceram antes da morte de líderes da facção, no primeiro trimestre desse ano. Por isso, de acordo com o promotor, o Ministério Público investiga quais foram as possíveis mudanças na facção criminosa, e destaca sobre a possibilidade de ter uma guerra interna em curso na organização.

Colaboração: R7