Extra | 30 de maio de 2018 - 08:19 114 ANOS

‘Homem mais velho do mundo’ luta para abandonar o fumo

Nascido em 8 de maio de 1904, o sul-africano Fredie Blom passou a maior parte da vida trabalhando em fazendas e na indústria da construção em Delft, um subúrbio da Cidade do Cabo.

Fredie Blom ainda não é reconhecido pelo Guinness World Records Foto: Nicholas Abrahams / Gerontology Wiki

CIDADE DO CABO — Nascido em 8 de maio de 1904, o sul-africano Fredie Blom passou a maior parte da vida trabalhando em fazendas e na indústria da construção em Delft, um subúrbio da Cidade do Cabo. Apesar de não ser reconhecido pelo Guinness World Records, documentos mostram que ele supera em dois anos o japonês Masazo Nonaka, considerado o homem vivo mais velho do mundo. A bebida, Tio Fredie — como é conhecido por amigos e familiares — largou há muitos anos, mas ainda não conseguiu abandonar o fumo.

— Todos os dias eu fumo duas ou três “pílulas” — revelou Fredie à BBC, sobre os cigarros de tabaco enrolados em papel de jornal. — A necessidade de fumar é muito grande. Às vezes eu digo para mim mesmo que vou parar, mas é como se eu tentasse me enganar. Meu peito pede por uma baforada e então sou forçado a fazer uma pílula. Eu culpo o demônio, porque é tão forte.

O que impressiona para um homem centenário é a saúde. Tio Fredie caminha sem auxílio, enxerga bem sem óculos e é completamente lúcido. O único problema é uma certa dificuldade para ouvir, algo compreensível para alguém com 114 anos. Casado com Jeanette Blom, 31 anos mais jovem, o ex-agricultor vive de maneira humilde, apenas com o dinheiro da aposentadoria.

Em entrevista para a agência chinesa de notícias Xinhua, Jeanette contou que o marido nunca se estressa e é um “homem muito trabalhador”. O casal se mudou para a casa onde vivem, em Delft, há cerca de 30 anos, logo após Fredie se aposentar.

— Depois que a gente se mudou para cá, ele construiu um carrinho e coletava madeira para vender para ajudar a pequena pensão que recebemos — contou.

No início do mês, Fredie se tornou uma celebridade na África do Sul. O jornal “Daily Voice” publicou uma matéria contando sua história, dizendo que por causa da situação financeira, ele não teria como pagar nem por um bolo no seu 114º aniversário. Intimado publicamente, o governo da província de Cabo Ocidental, em parceria com algumas redes de supermercado, fez uma grande festa, com presença da imprensa local e estrangeira.

Pessoas comuns, tocadas pela história, também levaram bolos para homenagear o homem mais velho do mundo. Questionado sobre os segredos para a longevidade, Fredie diz apenas que no passado a alimentação era mais saudável, que caminha para o mercado e crê na religiosidade.

— Existe apenas uma coisa, o homem acima de nós. Ele tem todo o poder, eu não tenho nada. Eu posso cair a qualquer hora, mas Ele me segura — contou, reconhecendo que a idade pesa, ainda mais quando são mais de cem anos. — Eu me sinto muito saudável, estou bem. Meu coração é forte, apenas as minhas pernas estão enfraquecendo. Eu não consigo andar como antes.

Pela aparência saudável, muitos duvidavam de sua idade até que, há alguns anos, uma sobrinha conseguiu uma segunda via da certidão de nascimento de Tio Fredie, com a data de nascimento. Para Sihle Ngobese, porta-voz do Departamento de Desenvolvimento Social de Cabo Ocidental, o fato de o governo ter emitido documentos confirmando a identidade é prova suficiente para assegurar sua idade.

Tio Fredie nasceu na zona rural de Adelaide, mas se mudou ainda na infância para a Cidade do Cabo. Não frequentou a escola, por isso não sabe ler ou escrever. Da infância, lembra com carinho de sair para caçar passarinhos com um estilingue. Seu primeiro emprego foi numa fazenda, antes de ser contratado por uma empresa de instalação de concreto pré-moldado.

Nos mais de cem anos de vida, Fredie viveu a independência da África do Sul, o início e o fim do Apartheid, a invenção da TV e outros avanços tecnológicos. Mas o avanço da criminalidade é a maior mudança percebida por ele.

— A vida era muito mais pacífica. Aqueles eram os bons tempos. Não havia assassinatos ou assaltos. Ninguém se feria — lembrou, com saudosismo. — Você podia ficar deitado na cama o dia inteiro e, quando acordasse, tudo, todas as suas coisas, ainda estariam lá.