Extra | 19 de outubro de 2017 - 07:28 SOS Saude

No Hospital Rocha Faria, faltam até papel higiênico e sabão

Além da falta de insumos, profissionais de saúde estão com os salários atrasados.

Adriana não conseguiu atendimento quando procurou o Rocha Faria, na semana passada, com falta de ar Foto: Flávia Junqueira

O Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, enfrenta uma grave crise. Além da falta de insumos, profissionais de saúde estão com os salários atrasados. Médicos descrevem um cenário de guerra ao relatarem as condições em que trabalham.

— Faltam medicamentos, gaze, esparadrapo, ataduras, vários tipos de fios de sutura, papel higiênico e sabão — enumerou um médico, que pediu anonimato.

 

Na tarde desta quarta-feira, um mapa do centro cirúrgico mostrava que nove operações haviam sido programadas. Mas, às 17h, apenas duas tinham sido realizadas, além de outras duas de emergência.

— Muitos profissionais não estão vindo, porque estamos sem salários. Em setembro, recebemos no fim do mês. Por isso, apenas casos graves estão sendo atendidos. A sala amarela está com poucos pacientes — contou um enfermeiro.

A emergência, que conta com 30 leitos, costuma ter 90 pacientes internados. Nesta quarta-feira, eram 50 doentes.

— Estou com uma dor terrível na cabeça, mas disseram que não há médicos para atender e me mandaram procurar outro lugar — disse um paciente.

Vítimas de acidente de moto, Agatha Rodrigues Barros, de 15 anos, e Nielson de Araújo, de 24, foram atendidos. Mas a jovem deixou a emergência com dor no cotovelo e no tornozelo.

— Estou com dor e mal consigo andar. Perguntei ao médico se ele não poderia imobilizar com atadura. Ele disse que não, mas mandou que eu fizesse isso quando chegasse em casa. Um absurdo — queixou-se Agatha.

 

Agatha e Nielson deixam a emergência: ela terá que fazer imobilização em casa Foto: Flávia Junqueira

 

A lutadora de artes marciais Adriana de Barcelos, de 28 anos, aguardava a companheira ser atendida. Mas a última experiência dela no Rocha Faria, na semana passada, foi traumática.

— Cheguei aqui na emergência com muita falta de ar. Eu estava me tratando de uma pneumonia. Disseram que não havia medicação para nebulização e me mandaram ir para a UPA. Caminhei 20 minutos até lá, nem sei como. Na UPA, precisei de quatro nebulizações com broncodilatador e injeções de corticoide para abrir o pulmão. Como pode uma emergência não ter remédio para nebulizar? — questionou ela.

 

O aposentado José Carlos Ferreira, de 65 anos, procurou o Rocha Faria nesta quarta-feira porque não consegue se alimentar há dias Foto: Flávia Junqueira

 

Amparado pela sobrinha, o aposentado José Carlos Ferreira, de 65 anos, procurou o Rocha Faria nesta quarta-feira porque não consegue se alimentar há dias. Com úlcera no estômago, ele se queixava de dor, fraqueza e pressão baixa.

— Eu achava que ficaria internado, porque não consigo comer. Mas apenas me deram soro e mandaram para casa — disse, conformado em voltar para casa, em Pedra de Guaratiba.

 

Não há papel higiênico nos banheiros do hospital Foto: Flávia Junqueira

 

A organização social Iabas, que administra o Rocha Faria, afirmou que o hospital continua prestando atendimento à população, apesar do atraso de repasses de cerca de R$ 14 milhões por parte da Secretaria municipal de Saúde. A secretaria alega que segue o calendário de repasses da Secretaria de Fazenda e informou que está agendado um repasse de R$ 5 milhões para 16 de novembro.