G1 | 24 de julho de 2017 - 17:34 Epidemia

Doença infecciosa se espalha e atinge mais de 2 mil presos da Papuda, no DF

Número de doentes passou de 692 para 2.095 em uma semana e atinge cinco das seis unidades do complexo prisional. Infectados estão sendo tratados, diz Secretaria de Segurança Pública.

O número de detentos contaminados por doenças infecciosas no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, passou de 692 para 2.095 em uma semana. Um aumento de 202,7%, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública. A contaminação, que estava restrita a dois dos seis prédios do complexo, agora atinge cinco deles.

No dia 14 de julho, a secretaria informou ao G1 que havia 172 infectados no Centro de Detenção Provisória e 520 na Penitenciária I. Nesta segunda-feira (24), a pasta informou que os números subiram para 493 e 950, respectivamente. Além disso, outros três prédios registraram novos casos.

Na Penitenciária II há 480 contaminados. O Centro de Internamento e Reeducação tem 168 e o Centro de Progressão Penitenciária, 4. Segundo a secretaria, todos os detentos – doentes e saudáveis – passaram por triagem médica e todos os infectados estão sendo tratados. Os números foram registrados na última sexta (21).

O complexo da Papuda tem capacidade para abrigar 7.496 presos, mas hospeda, em média, 15 mil detentos.

 

Sob controle?

 

A Secretaria de Segurança Pública informou ao G1 no dia 14 que as doenças tinham sido "controladas por meio de medicação assim que foram identificadas, por volta do dia 20 de junho". Na ocasião, a pasta também disse que médicos e enfermeiros estavam fazendo mutirões de triagem dos internos para verificar se havia novos casos de contaminação.

Nesta segunda-feira (24), o G1 entrou em contato com a secretaria para obter informações atualizadas, mas recebeu as mesmas respostas. A pasta também reiterou que, embora o número de casos tenha aumentado, "não há motivos para suspender as visitas aos detentos".

"O fato de um grupo de internos estar com doença de pele não significa que os estabelecimentos prisionais estão passando por um quadro de epidemia", diz a nota do governo.

 

Camas usadas por detentos no presídio da Papuda, em Brasília (Foto: Ministério Público/Divulgação)

 

O caso está sendo acompanhado pelo Ministério Público do DF, que enviou recomendação à Secretaria de Segurança Pública para que ações de combate às doenças sejam cumpridas com rigor. Entre elas, banho de sol diário, estoque de medicamentos para o tratamento, lavagem diária da roupa de cama e higienização das algemas e mãos dos detentos.

A secretaria informou ao G1 que 25 celas do Centro de Detenção Provisória foram higienizadas. As outras unidades atingidas passaram por limpeza geral e os detentos foram orientados sobre higiene pessoal.

Apesar dos esforços, de acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Leandro Allan, a situação não está controlada.

 

"Enquanto todos os detentos não forem tratados, a chance de contaminação ainda existe. Não dá pra dizer que outros presos não vão ser contaminados."

 

O G1 também entrou em contato com a Secretaria de Saúde para atualizações sobre o tratamento dos infectados e medidas adotadas para conter o aumento dos casos, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

 

Doenças

 

 

Foto do portal do Sindpen mostrando imagens de detentos da Papuda com sintomas de doença infecciosa (Foto: Sindicato dos Agentes Penitenciários/Reprodução)

As doenças identificadas pela Secretaria de Saúde no dia 14 de julho eram a escabiose e o impetigo, infecções de pele provocadas por ácaros e bactérias. Nesta segunda, a Secretaria de Segurança Pública informou ao G1 que o impetigo foi descartado por médicos da unidade, mas que outras três doenças foram detectadas – tineas, ptiríase e furunculoses.

Todas elas têm maior chance de proliferação em ambientes fechados com aglomeração de pessoas, como escolas, creches, quartéis e presídios.

O infectologista e comentarista da TV Globo Luiz Antônio Silva explicou que a escabiose é popularmente conhecida como "sarna" e provoca pequenas bolas avermelhadas na pele que coçam bastante.

Ao coçar – especialmente à noite, quando o sintoma se intensifica – é comum que sejam formadas feridas, e o contato com bactérias presentes na unha e no ambiente externo gera a infecção, neste caso chamada de impetigo.

 

Foto do portal do Sindpen mostra doença de pele provocada por bactérias atingiu, ao menos, 600 detentos da Papuda, em Brasília (Foto: Sindicato dos Agentes Penitenciários/Reprodução)

Os sintomas podem se manifestar em todo o corpo, inclusive nas regiões íntimas. Imagens publicadas pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindpen) mostram as reações em alguns detentos.

A recomendação médica para evitar complicações é que o tratamento seja iniciado até 48 horas depois do aparecimento dos primeiros sintomas. "Geralmente, entra com uso de antibiótico oral pra tratar as feridas e pomadas pra evitar a coceira. Mas é preciso tratar todo mundo de uma vez", disse o médico.

*Sob supervisão de Maria Helena Martinho