TJ / MS | 21 de novembro de 2016 - 15:30 Poder Judiciário

Com 97% dos magistrados recebendo acima do teto, judiciário de MS entra na mira do Senado

Comissão especial criada no Senado para identificar servidores

Comissão especial criada no Senado para identificar servidores que estejam recebendo acima do teto constitucional pode afetar diretamente o Poder Judiciário sul-mato-grossense, onde 97,46% dos desembargadores recebem mais de R$ 33.763,00, valor máximo estipulado por lei, referente ao subsídio dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

A comissão formada por um colegiado de senadores terá 20 dias para analisar as folhas de pagamentos dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário de todo o país. O objetivo é avaliar também o pagamento de benefícios como auxílio-moradia e outras indenizações para que sejam incluídos no abate-teto. Estas gratificações, hoje, são usadas para inflar os salários de servidores de forma legal.

Segundo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a fiscalização mais rigorosa deve auxiliar as contas públicas a sair do “atoleiro”. “É inadmissível que, por falta de vigilância, existam agentes públicos que estejam ganhando mais de R$ 100 mil e até R$ 200 mil em salários nas estatais e em outras esferas públicas. Não é admissível, não é sensato. Não é justo com a saúde, não é justo com a educação, não é justo com a segurança pública”, declarou.

Em Mato Grosso do Sul, 97,46% dos magistrados ganham acima do teto constitucional, com subsídio de R$ 48.570,40, em média, conforme levantamento feito pelo jornal O Globo. A estimativa é inferior apenas ao que recebem juízes e desembargadores de Sergipe, onde a média salarial é de R$ 54.086,69. Na sequência, aparece Mato Grosso, onde a magistratura tem salário estimado em R$ 45.305,45.

Folha de pagamento em MS

Em análise da folha de pagamento do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), o maior rendimento líquido pago no mês de agosto a um desembargador do Estado foi de R$ 65.350,21, retirados descontos diversos, além de imposto de renda e previdência. O subsídio base para a função é de R$ 30.471,11, mas o servidor teve direito a R$ 3.351,82 de ‘vantagens pessoais’, R$ 9.141.34 de ‘indenizações’ e R$ 37.242,46 de ‘vantagens eventuais’.

O menor salário para um desembargador sul-mato-grossense registrado no mês foi de R$ 28.200,76. De acordo com O Globo, apenas 51 dos 1.671 desembargadores do país recebem abaixo do teto. No caso da folha de pagamento de agosto, a proporção registrada no Estado é de 18 de 31 magistrados com subsídios abaixo dos R$ 33,7 mil.

Entre os juízes, o maior pagamento de agosto foi de R$ 69.461,81, mais que o dobro do teto, isso já considerando descontos diversos, imposto de renda e previdência. Com subsídio-base de R$ 28.947,55, o magistrado recebeu acréscimos de R$ 14.473,78 por ‘indenizações’ e R$ 43.099,69 por ‘vantagens eventuais’. O menor rendimento líquido de um juiz, no mesmo mês, foi de R$ 21.047,28.

Os valores oscilam em todos os meses, beneficiando um ou outro magistrado. Além das gratificações já citadas, os servidores têm direito a outros benefícios como pagamentos de diárias para trabalhar em outras cidades ou participar de atividades inerentes ao cargo fora do período de expediente. Conforme O Globo, Mato Grosso do Sul está entre os estados que desembargadores e juízes possuem até dois contracheques diferentes.

Retaliação

A criação da comissão especial no Senado foi muito criticada, sendo comparada a possível retaliação ao Poder Judiciário às inúmeras investigações e condenações de políticos brasileiros em operações como a Lava Jato. Em resposta, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), relatora da comissão, afirmou que não se trata de uma “caça às bruxas”, mas sim a busca para preencher uma lacuna “que carece de regulamentação e que permite várias exorbitâncias e distorções”.

O debate sobre o tema, inclusive, é permeado por diversos entraves judiciais. Tanto que a ‘Gazeta do Povo’, no Paraná, foi alvo de 48 ações judiciais por publicar reportagens sobre o assunto. O caso só foi amenizado após a ministra do STF, Rosa Weber, reconsiderar decisão anterior e suspender os processos até análise do tema no Supremo.