Em 25 anos de confeitaria, a propaganda sempre foi no boca-a-boca. E desta maneira a empresária Lucimar Parpinelli, de 55 anos, coleciona histórias de pedidos inusitados de bolos, bem como o dia em que um acidente a fez voltar para casa e começar a torta "do zero", além das dificuldades para educar os filhos em meio às encomendas diárias. No entanto, olhando para trás, ela diz que toda a luta valeu a pena, garantindo os filhos formados e uma casa própria em Campo Grande.

“Eu morava no sítio em Glória de Dourados e lá tínhamos uma vida muito sofrida, então chegamos nesta cidade com a cara e a coragem. Meu marido conseguiu um emprego como vigilante e eu fiquei por duas semanas com os filhos pequenos em casa. Só que andando pelo bairro Cohab, hoje Bonança, uma pessoa me ofereceu um curso gratuito de confeitaria, no centro comunitário. Eu levei os bebês e os colocava embaixo da mesa, enquanto aprendia as técnicas”, afirmou ao G1 Parpinelli.

Durante as aulas, o proprietário de um buffet encomendou a ela o primeiro bolo. “Eu nunca esqueço da conversa que tive com ele, pois expliquei que não tinha nem batedeira para fazer o bolo. No entanto, ele confiou em mim porque tinha experimentado a minha massa, feita na mão mesmo, durante o curso. E assim ele comprou frutas para a decoração e meu deu confiança para continuar o trabalho”, contou a empresária.

Nos próximos dias, ela se dedicou a fazer cocadas, maça do amor e outros quitutes para vender na vizinhança. “Tudo o que eu fazia, vendia aqui no bairro mesmo, com os bebês no colo. Acho que tive um pouco de facilidade pelo fato de ter de cozinhar para os meus irmãos mais novos. Na época, tinha sete anos de idade e já era responsável por eles, enquanto meus pais saíam cedo para trabalhar no campo. Aqui as pessoas encomendavam e um ia passando o meu telefone para o outro”, explicou Lucimar.

Recentemente, ela conta que comemorou o aniversário e uma vizinha a presenteou com cartões de visita. “Foi a primeira vez que alguém fez uma propaganda, pois sempre trabalhei no boca-a-boca e nunca me faltou serviço. Inclusive trabalho para aquele mesmo empresário que me fez a primeira encomenda. Esses dias, por curiosidade, ele pediu para verificar quantos quilos de bolo eu havia feito para ele em 2014. Fiz as contas em minha agenda e somei 580 kg”, brincou a empresária.

E os bolos não ficam só em Campo Grande, pois ela já enviou para Terenos, Rochedo e Sidrolândia. "São muitas histórias mesmo, tantos boas como tristes. Eu já levei um calote famoso, muito divulgado pela mídia na época, quando uma empresária sumiu sem pagar os fornecedores. Eu mesmo fiquei de receber R$ 2,5 mil e nada. Mas também teve o dia em que um acidente fez desmanchar o meu bolo, na hora de ser entregue. Tive que voltar para casa e fazer tudo de novo", contou.

Com o fruto do seu trabalho, Lucimar disse que proporcionou estudo aos filhos, hoje graduados em Enfermagem padrão e Administração. Além disso, ela criou um sobrinho, atualmente com 18 anos.

“Eles acostumaram com muito trabalho e estão sempre ocupados. Meu filho tira, em média, 18 plantões ao mês. A minha filha, que se tornou administradora, decidiu trabalhar comigo e me ajuda muito. Agora ela abriu uma página no Facebook e temos muitas encomendas”, finalizou.