Correio do Estado | 1 de setembro de 2015 - 13:31 Conflito por terras

Igreja católica se cala diante de conflito entre produtores e índios no Estado

Instituição costuma manifestar-se quando o objeto debatido é a comunidade indígena

Conflito continua em região de Antônio João - Foto: Valdenir Rezende/Correio do Estado

Arrancar opiniões acerca do conflito envolvendo índios e fazendeiros, em Antônio João, é tarefa quase impraticável. Por lá, nem sequer a igreja Católica, que costuma manifestar-se quando o objeto debatido é a comunidade indígena, emitiu até agora posição acerca do confronto que motivou a morte de um índio, na tarde de sábado.

Josué Ruivo, pároco da matriz do município, disse que não “é apto para falar sobre o assunto, que veio de São Paulo e que não conhece a realidade da região”. O padre comanda a matriz de Antônio João há um ano.

Ele informou que quem poderia conversar sobre a questão seria D. Redovino, bispo católico, que mora em Dourados, cidade distante 150 quilômetros de Antônio João. Ontem, no entanto, a reportagem tentou dialogar, por telefone, com o presbítero, mas não o localizou.

Líderes evangélicos da cidade de ao menos 10 mil habitantes, também não se manifestaram. Já os comerciantes ouvidos lidam com o tema, com reservas. “Sinceramente, meus clientes são os fazendeiros e os índios. Gostaria que eles vivessem em paz”, afirmou Carlos Roberto Azambuja de Almeida, dono de comércio que negocia produtos agroveterinários no município.

Leontina Dias e o marido Humberto, dono de restaurante, disseram que a “paz” seria melhor para todos. “Sumiram nossos clientes, nosso movimentou cai em até 90% nos fins de semana”, queixou-se o casal. 

Já a maioria - a reportagem ouviu em torno de dez - que se propôs a comentar o caso na condição do anonimato, deixa claro o lado que defende: os ruralistas.

O conflito no município envolve 9 fazendeiros que dominam 9,3 mil hectares e em torno de 150 índios.

Em 2005, o ex-presidente Lula criou um decreto que legitimava a terra em questão como território indígena. No entanto, os fazendeiros recorreram e o caso corre na Justiça, sem previsão de desfecho.