Mídia Max | 6 de julho de 2015 - 10:29 Campo Grande

Motoristas estranham aumento de 'placas estrangeiras' em MS e temem acidentes

Ruas de Campo Grande têm cada vez mais carros paraguaios

Sem fiscalização rigorosa, muitos condutores estrangeiros trafegam sem documento obrigatório (Eser Cáceres)

Para um brasileiro entrar no Paraguai com veículo nacional a burocracia é grande e a 'marcação' policial intensa. No entanto, quem vem a Mato Grosso do Sul com veículos estrangeiros enfrenta quase nenhuma fiscalização. Motoristas de Campo Grande, por exemplo, estranham o aumento repentino no número de automóveis paraguaios e temem ficar no prejuízo em caso de acidentes com os 'hermanos'.

A precariedade na fiscalização de veículos estrangeiros é reconhecida pelas autoridades e permite que muitos condutores, paraguaios, bolivianos e até mesmo brasileiros, circulem pelo Estado com carros registrados nos países vizinhos. Facilitam o acesso a grande faixa de fronteira seca e a proximidade com o Paraguai.

Enquanto no Paraguai muitos brasileiros reclamam por serem parados por policiais a cada quilômetro que nem sempre se limitam a fiscalizar, por aqui os carros paraguaios rodam e têm grande chance de escapar impunes, por exemplo, quando infringem as leis de trânsito nacionais.

Em virtude das deficiências nas fiscalizações, muitos motoristas trafegam sem a Carta Verde, seguro obrigatório para veículos que ingressam na Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Instituído pela resolução 120/94, do Grupo Mercado Comum do Mercosul e em vigor desde 1º de julho de 1995, o objetivo do seguro é  proteger terceiros afetados por acidentes de trânsito, no período da viagem.

A Carta Verde cobre danos corporais e materiais, pagamento de honorários de advogado de defesa do segurado, bem como custas judiciais e pode ser contratada por qualquer seguradora que ofereça o serviço, no entanto, sem o seguro não há garantias de que os prejuízos serão ressarcidos, uma vez que não é possíve3l assegurar que o motorista que o motorista que provocou o acidente será localizado, como explica o inspetor da PRF e instrutor de Fiscalização da Legislação de Trânsito Internacional, Luis Sakai.

“Esta é uma das situações mais preocupantes no meu ponto de vista. Imagina um condutor brasileiro que tem o carro atingido por outro estrangeiro. Se o motorista que provocou o acidente tiver a Carta Verde, tudo bem porque o conserto está garantido, mas se não tiver, quem garante que o estrago será ressarcido? O condutor estrangeiro pode informar qualquer endereço e quem vai notificá-lo?”, questiona.

Além da falta de garantias de ressarcimento em caso de acidentes, a falta de fiscalizações ignora muitas regras que regularizam a circulação no Brasil. Conforme a Resolução nº 360, de 29 de setembro de 2010, do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), o condutor de veículo automotor, oriundo de país estrangeiro, e que more no país onde o carro foi comprado, tem permissão para dirigir em território brasileiro por um período máximo de 180 dias, após este prazo, o automóvel deve ser regularizado na Receita Federal.

O condutor que descumprir o prazo por ser autuado por contrabando ou descaminho. A equipe de reportagem do Jornal Midiamax, entrou em contato com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), BPTran (Batalhão de Polícia Militar de Trânsito) , Polícia Federal e PRF (Polícia Rodoviária Federal), a fim de saber a quantidade de veículos estrangeiros que circulam no Estado, no entanto, nenhum dos órgãos procurados pela soube responder a pergunta.

De acordo com o inspetor da PRF, a fiscalização torna-se difícil por causa das fronteiras secas do Estado. Ao todo, seis municípios fazem divisas com a Bolívia ou Paraguai, são eles: Corumbá com Puerto Quijarro (Bolívia), Ponta Porã com Pedro Juan Caballero (Paraguay), Porto Murtinho com Capitán Carmelo Peralta (Paraguai), Paranhos com Ypejhú (Paraguai), Bela Vista com Bella Vista Norte (Paraguai), a Mundo Novo com Salto del Guairá (Paraguai).

 “Não há controle da entrada e da saída destes veículos. Não existe esse registro. A PRF verifica os veículos que passam pelas rodovias federais, mas muitas fronteiras, não contam com a fiscalização e isso facilita a entrada de carros estrangeiros, que inclusive, podem ser fruto de roubo. Uma vez que o automóvel entra no Brasil, os condutores irregulares evitam as rodovias e ficam circulando pela cidade, onde não tem fiscalização”, explica o inspetor.

O inspetor destaca que os condutores flagrados com veículos estrangeiros em situação irregular devem ser autuados e o automóvel levado para o pátio da Receita Federal, que por sua vez deve acionar a Polícia Federal para que haja a investigação de contrabando e descaminho.