Correio Braziliense | 22 de janeiro de 2015 - 07:37 caos em aeroportos

Manifestação de trabalhadores paralisa atividades nos aeroportos do país

Categoria fica de braços cruzados por uma hora, para reivindicar aumento salarial

Passageiros de vôos marcados para a manhã desta quinta-feira (22/1) enfrentam problemas para embarcar. Os trabalhadores da aviação civil paralisaram por uma hora, das 6h às 7h, todas as decolagens e atendimentos nos aeroportos do país. A mobilização de aeronautas e aeroviários da base da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT (Fentac) é para reivindicar um aumento de 8,5% nos salários e demais benefícios recebidos.

Às 6h, cerca de 50 aeronautas e 20 aeroviários já estavam mobilizados na entrada da área de embarque do Aeroporto JK. Com cartazes nas mãos, eles pediam salários melhores e ressaltavam problemas com as escalas de trabalho, consideradas por eles como “desumanas”. Às 7h, os aeronautas terminaram o protesto e voltaram ao trabalho. No entanto, segundo o advogado do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Mozar Barroso, os aeroviários devem estender o ato até às 11h. Os trabalhadores estão passando em todos os guichês de atendimento para explicar aos clientes os motivos da paralisação.

A Polícia Militar foi mobilizada e acompanha o protesto, que é pacífico. Não há registros de tumulto dentro do terminal e nem nos arredores. Segundo o capitão Luiz Lima, do 5° Batalhão de Polícia Militar, um contingente atua também nas áreas próximas ao balão do aeroporto, para evitar o fechamento das vias.

Para hoje também está prevista uma nova assembleia dos aeronautas, às 15h, para avaliar os resultados da mobilização e definir os rumos do movimento nos dias seguintes. "A assembleia pode inclusive definir ações mais incisivas, como a ampliação do período de paralisação diário, para que as reivindicações dos trabalhadores sejam atendidas", diz a convocação do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA).

Segundo a Inframérica, um plano de contingência está preparado para o caso de protestos nos terminais e também para auxiliar os passageiros. Em 22 de dezembro, um protesto da categoria fechou o acesso ao balão do Aeroporto JK e causou caos no trânsito, além de provocar a correria dos passageiros para chegar a tempo de pegar o voo. Muitos foram vistos correndo pela rua, com as bagagens nas mãos.

Efeito cascata

Com atrasos de voos nas primeiras horas do dia é inevitável o “efeito cascata” ao longo da manhã. Segundo a Inframérica, a torre de controle da Aeronáutica terá que reordenar os voos para não prejudicar os pousos e decolagens. No entanto, como o horário de pico ocorre entre 7h e 10h30, os passageiros devem enfrentar dificuldades. Ainda não há informações sobre voos cancelados ou atrasados.

Entre os passageiros, o clima é de preocupação. A administradora Onara Vieira, 50 anos, e o filho dela, Roni Berndt, 27, vieram de Porto Alegre (RS) em uma ponte aérea para Boa Vista (RR). Eles desembarcaram surpresos com a paralisação e com a chuva em Brasília. “Nosso voo para Roraima está previsto para às 9h15 e estou preocupado com esse atraso”, lamentou Roni Berndt.

Impasse em negociações
O movimento é organizado pelos sindicatos dos Aeroviários de Guarulhos, Porto Alegre, Campinas, Recife, do Sindicato Nacional dos Aeroviários, que representa 22 Estados, e do Sindicato Nacional dos Aeronautas. A greve foi decidida em assembleia na semana passada, após as entidades patronais terem proposto um reajuste de 6,5% nos salários, que corresponderia a um pequeno ganho real, de 0,17%, e 8% nos vales-alimentação e refeição, proposta considerada "inaceitável" pelos trabalhadores. Em nota divulgada nessa quarta-feira (21/1), a Fentac afirmou que "a paralisação será deflagrada em razão que o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA), que representa as companhias TAM, Gol, Azul e Avianca, não apresentou até o final da segunda-feira (19/1) uma nova proposta de reajuste salarial e melhoria nos benefícios sociais para os trabalhadores da aviação civil".

Segundo o SNEA, uma nova proposta, de reajuste de 6,83% - o que corresponde à reposição de inflação mais um ganho real de 0,50% - chegou a ser colocada na mesa pelas empresas na semana passada, mas os representantes das categorias a rechaçaram, depois de já terem reduzido duas vezes sua reivindicação - inicialmente, eles defendiam um aumento de 11%. O presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru/CUT), Orisson Melo, afirmou, em nota, que a paralisação terá um reflexo nos aeroportos de todo o país, podendo ocasionar um atraso de até cinco horas nos voos nacionais e internacionais. "No GRU Airport, acreditamos que, por ser o maior em tráfego de passageiros do Brasil, o impacto do atraso de uma hora será bem maior, em razão também das conexões que são feitas entre os voos em Guarulhos entre os Estados", acrescentou.

Já as empresas preparam planos de contingência para tentar minimizar os impactos, mas, até o momento, não indicaram uma estimativa de impactos na malha e nos atrasos. Na tentativa de reduzir os reflexos, o SNEA entrou com ação cautelar preparatória do dissídio coletivo de greve no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que determinou um efetivo mínimo de 80% de aeronautas e aeroviários em serviço durante a paralisação. Foi estabelecida também multa diária de R$ 100 mil no caso de descumprimento dessa determinação judicial.