Correio Braziliense | 26 de dezembro de 2014 - 09:37 morte súbita das pastagens na AM

Doença nos pastos da Floresta Amazônica preocupa produtores rurais

O capim-braquiária, começou a sofrer a chamada "morte súbita"

Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press

“O pessoal fala que antigamente era fácil demais de formar a braquiária: derrubava o mato e estava pronto”, conta Aldo Danetti. O “mato” de que o pecuarista de 57 anos fala é a Floresta Amazônica, e a braquiária é o tipo de capim mais comum na região. Ele é dono de uma fazenda de 480 hectares, em Alta Floresta, no norte de Mato Grosso. O local foi colonizado entre as décadas de 1970 e de 1980, com o incentivo dos governos militares sob o lema “uma terra sem homens para homens sem terra”. Derrubada a floresta, a matéria orgânica que “sobrava” por cima da terra era tão rica que o capim crescia em abundância.

Entretanto, de três a quatro décadas depois da substituição da floresta pela monocultura do capim, a natureza está dando o troco. A principal e, muitas vezes, única fonte nutricional dos rebanhos amazônicos, o capim-braquiária, começou a sofrer a chamada “morte súbita”. Pecuaristas do Mato Grosso, do Pará, do Acre e de Rondônia sofrem com o amarelamento das folhas, que morrem rapidamente.

“Não tem como salvar. Parece até um fungo que dá na terra e, quando chove, ele se espalha. Quando eu precisava mesmo do capim, ele raleava”, lamenta Danetti sobre as estações chuvosas, época do gado ganhar peso para o abate. A explicação mais aceita é que a morte súbita da braquiária é gerada pelo encharcamento do solo, que reduz a oxigenação nas raízes. Debilitada pela alteração da terra, ela fica suscetível à infestação de fungos, que se desenvolvem melhor no ambiente úmido e matam a planta.

Depois de uma má sucedida tentativa de reformar o pasto, sem assistência técnica, há alguns anos, Danetti é hoje um dos criadores atendidos pelo projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono, do Instituto Centro de Vida (ICV), uma ONG de Mato Grosso. Satisfeito, conta os resultados obtidos enquanto faz o manejo das 143 cabeças da raça nelore de um curral para o outro — ambos repletos de capim. “Eles vêm bem assim. Se eu suplementar com ração, rodo o gado mais rápido pelos piquetes (currais), mato o boi mais novo, com um peso melhor, para botar outro no lugar.”