Midiamax | 6 de setembro de 2014 - 08:52 CAMPO GRANDE - polícia

Idoso que apanhou e perdeu dente em assalto usa humor para lidar com medo da violência

“Pretendo mudar, mas não agora, porque não tem condições. Pretendo fazer grades, trabalhar prisioneiro, não tem outra saída”. É assim que espera trabalhar o comerciante Antônio José Mantiniaro, de 57 anos, que foi torturado em um assalto na manhã da quarta-feira (3), no Jardim Noroeste, em Campo Grande. “Vou ter que atender igual na cadeia. E nem pode chegar muito perto [da grade]”, diz.

Um dia após ser agredido por bandidos, o sorriso escondia as marcas de tortura e até um dente arrancado com um chute no rosto. O comerciante lembrou os momentos de terror que viveu “Hoje eu dei tanta risada, passado o susto. Gosto de rir para distrair a mente”, diz.

O assalto aconteceu às 9 horas da quarta-feira e foi a terceira vez que o local foi roubado. Das outras vezes, segundo ele, em um vacilo, pegaram o dinheiro da gaveta do caixa. Dessa vez, o comerciante foi surpreendido por um dos assaltantes, que já foi até cliente. “Ele era freguês que comprava fiado. Estava me devendo R$ 42. Sabia que era bandido, mas nunca imaginei que ele ia fazer isso comigo. [Ele] Precisava de uma coisa ou outra e pegava para pagar depois. Para você ver que bandido não tem dó de ninguém”, relembra.

Quando fala da tortura que sofreu, o sorriso dá lugar às lágrimas que não chegam a cair. “Foi uma tortura e põe tortura. Mas Deus estava tão comigo, que eu nem senti. Nem sabia que tinha arrancado o dente, só soube na delegacia. Nem o dentista arranca o dente do jeito que ele arrancou”, conta disfarçando o nervosismo com bom humor.

Mesmo revivendo os momentos de terror, o comerciante ainda encontrou tempo para fazer graça. “Uma vez eu fui ao dentista e fiquei com 30 dias com dor. Eles são tão especialistas que com um chute arrancaram o dente inteiro, nem doeu, sem anestesia. Ia fazer um pingente dele”.

Comerciante ‘toda vida’, Mantiniaro conta que já trabalhou em vários bairros de Campo Grande. No Jardim Noroeste, é o segundo comércio que ele montou e já está há nove anos no bairro. Ele diz que nem pensa na possibilidade de fechar o comércio. "É o meu ganha pão. Se eu parar, vou viver do que? Não tem jeito. Eu tenho que trabalhar para sobreviver”, afirma.

Dos bairros em que já passou, ficaram histórias de quem já teve comércio na Vila Pioneira, no Jardim Anache, no Tiradentes, mas fala com orgulho, que nunca houve nenhuma confusão no estabelecimento dele. “Antigamente era perigoso no Tiradentes, mas nunca aconteceu nada. O Anache na época que eu trabalhava lá,matava um hoje e deixava o outro amarrado para matar outro dia. Nunca teve uma confusão. Todo mundo era amigo. O bom, o ruim, todo mundo era amigo”.

O comerciante diz acreditar que a dupla que invadiu o comércio e o agrediu estava junto com mais três pessoas, que ficaram do lado de fora. Ele foi ameaçado com uma faca da própria residência. “Ainda brinquei com ele [com o ladrão]: Reapareceu... Quando olhei, o outro já estava atrás de mim, com revólver na mão. Já senti que não estava nada de boa. Começou a me torturar. Jogaram a gaveta, pegaram o dinheiro, e outro veio para dentro caçar o dinheiro e um revólver. Falaram você tem um revólver. Eu tenho 57 anos, nunca peguei um revólver”.

 

Luiz Alberto