Uol | 3 de setembro de 2014 - 17:40 Economia

Dólar fecha na mínima em cinco semanas por expectativa com eleições

Na mínima, a cotação foi a R$ 2,2268, menor nível intradia também desde 29 de julho (R$ 2,2243).

No mercado futuro, onde os negócios vão até as 18h, o dólar para outubro cedia 0,31%, a R$ 2,2525.

O apetite vendedor de dólares aqui foi influenciado ainda pelo cenário externo, onde predominou a expectativa de que a já farta liquidez seja ampliada por uma eventual ação do Banco Central Europeu (BCE). O dólar caía 0,06% ante o peso mexicano, 0,70% contra a lira turca e 0,76% frente à moeda australiana.

O operador de câmbio de um banco estrangeiro diz que os fundos locais e investidores estrangeiros seguiram vendendo dólares no mercado de derivativos, num movimento que para o profissional é o que tem ditado a queda do dólar. "O fluxo agora é o de menos. O que importa para o mercado é uma mudança de governo e de política econômica", afirma.

Agosto terminou com uma saída líquida de US$ 3,056 bilhões, a mais forte desde dezembro de 2013, quando o fluxo fora negativo em US$ 8,78 bilhões. No acumulado de 2014, há déficit de US$ 700 milhões, contra um superávit de US$ 2,238 bilhões no mesmo período do ano passado.

O fluxo do mês passado foi resultado de um saldo negativo de US$ 2,04 bilhões nas operações comerciais - pior desempenho para meses de agosto desde 1982, início da série histórica do BC. No segmento financeiro, o saldo negativo foi de US$ 1,016 bilhão.

Só na semana passada, saíram do Brasil em termos líquidos US$ 4,27 bilhões. Foi o pior resultado de sde a semana encerrada em 28 de novembro de 2008, quando investidores mandaram para fora do país US$ 4,52 bilhões. É importante lembrar que em novembro de 2008 o mundo vivia o auge da crise financeira internacional.

A forte saída de recursos levou os bancos a financiar o déficit de dólares no mercado. Com isso, a posição vendida dessas instituições financeiras em dólar à vista aumentou para US$ 18,826 bilhões, maior patamar desde 1994, a partir de quando o Banco Central disponibiliza a série histórica.

"A tendência daqui para a frente é o fluxo continuar negativo, mas essa saída da semana passada me pareceu algo fora da curva, ainda mais com a chance de uma vitória da oposição em outubro", diz o operador do banco estrangeiro.

O profissional da área de derivativos de uma corretora minimizou o impacto sobre o câmbio da notíci a de que o Brasil captou US $ 1 bilhão em emissão de bônus no exterior com vencimento em 2025, segundo uma fonte informou às jornalistas Talita Moreira e Aline Oyamada, do Valor. A operação em tese pode abrir caminho para que companhias privadas também vão a mercado.

"Mas as empresas já captaram no primeiro semestre. E sempre tem o risco do câmbio envolvido, já que a tendência do dólar é de alta. No fim, apesar do momento aparentemente favorável, o barato pode sair caro", diz o profissional, lembrando que as empresas podem se sentir desestimuladas a tomar empréstimos devido ao pouco impulso para investimento, em meio à fraca confiança.

O diretor de pesquisa para mercados emergentes nas Américas do Nomura, Tony Volpon, chama atenção para o fato de o desempenho do real estar "aquém" do mostrado pelo Ibovespa, por exemplo. Nas contas do executivo, dado o cenário de otimismo que se instalou nos mercados locais desde que Marina começou a subir nas pesquisas, o dólar deveria estar em torno de R$ 2,15.

Para Volpon, há dois motivos principais para esse "atraso" da moeda brasileira. "O real está caro em relação aos fundamentos, e a retirada do programa de swaps cambiais do Banco Central pressionará o real, ou pelo menos impedir qualquer apreciação significativa", afirma o diretor.

No entanto, Volpon diz que um rali do real não seria exatamente contido pelo BC. Isso porque o intuito do programa de swaps é suavizar movimentos, e não impedi-los. Além disso, Volpon afirma que não se deve subestimar o desejo do atual BC de contabilizar algum ganho com as operações de swap, diante da perspectiva de que uma nova equipe venha. "E a melhor forma de fazer isso é deixar o real se apreciar, já que o ainda grande volume de posições vendidas em real foi apenas parcialmente desmontado."