UOL | 5 de abril de 2014 - 10:40 Ação militar no Rio de Janeiro

Após polícia matar 16 em 15 dias, Exército ocupa Complexo da Maré

Militares em blindados do Exército e da Marinha deram início, nas primeiras horas deste sábado (5), por volta das 6h20, à operação "São Francisco", de ocupação das 15 favelas que compõem o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação dá suporte e antecede a implantação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no local --a 39º  do Estado.

A área, onde vivem cerca de 130 mil pessoas, foi efetivamente ocupada, pela Polícia Militar, no domingo (30), mas policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) começaram a reconhecer a área desde o último dia 21. Ontem à noite, a Seseg divulgou um balanço total da operação: em 15 dias, a PM matou 16 pessoas no local. Outras oito ficaram feridas. Um montante de 101 armas foi apreendido, além de 2.252 munições e de grande quantidade de drogas.

Hoje, durante a ocupação, o coronel Alexandre Fontenelle, comandante do COE (Comando de Operações Especiais) da PM, que chefiou a operação iniciada pelas forças de segurança estaduais no último domingo (30), falou ao UOL sobre as 16 mortes em confrontos entre polícia e criminosos, registradas em relatório divulgado pela Seseg.

"No período em que estivemos aqui dentro [na última semana], só houve um confronto que resultou em morte, no Parque Vaz, em uma atuação do Bope. O restante foi de conflitos pontuais". Ainda de acordo com Fontenelle, as ocorrências registradas antes da ocupação do complexo fizeram parte do "processo pré-pacificação".

Os primeiros integrantes da chamada "Força de Pacificação" chegaram aos  acessos do complexo por volta das 5h15, quando o clima ainda era o da noite anterior, com muitas pessoas bebendo na rua e música alta. Homens do Exército e da Marinha passaram a revistar carros, caminhões e moradores. Logo em seguida, por volta das 5h50, veículos blindados das Forças Armadas já se posicionavam nas saídas das comunidades.

A chegada dos militares foi tratada com um misto de indiferença  e desconfiança pela maioria das pessoas que estavam na rua no momento. À reportagem do UOL, moradores e comerciantes do complexo --que pediram para não serem identificados-- disseram não esperar atuação diferente do Exército com relação à atuação da Polícia Militar. 

Para o comerciante Luiz (nome fictício), "o tráfico não vai acabar. No máximo, vai ficar mais discreto".

Exército com poder de polícia

Com a operação de hoje, o patrulhamento permanente do complexo passa a ser feito por 2.700 homens do Exército, da Marinha e das polícias Civil e Militar do Estado. O governador Luiz Fernando Pezão, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, assinarão protocolos para formalização da atuação da "Força de Pacificação" no Complexo da Maré, no Palácio Duque de Caxias, onde fica o CML (Comando Militar do Leste), no Centro da capital fluminense.

As tropas, que serão comandadas pelo general Roberto Escoto, comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, vão atuar na região até o dia 31 de julho deste ano em uma área de aproximadamente 10 km². 

O Exército terá poder de polícia para atuar na Maré por conta de uma GLO (Garantia de Lei e da Ordem). A maioria dos militares escalados (2.050 homens) faz parte da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército. 

Além deles, participam da operação 450 fuzileiros navais da Marinha e 200 homens da PM, além de uma equipe avançada de policiais civis da 21ª DP (Bonsucesso).

A operação prevê a utilização de blindados do Exército e da Marinha e de aeronaves do Comando de Aviação do Exército, além de outras viaturas para o transporte e logística e motocicletas. 

A base da tropa ficará baseada no CPOR-RJ (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro), localizado na Avenida Brasil, no bairro de Bonsucesso.

O prazo pode ser prorrogado em caso de solicitação do governo estadual e autorização da presidente Dilma Rousseff. A operação, batizada "São Francisco", é maior do que a realizada no Complexo do Alemão, também na zona norte do Rio, há quatro anos.

Efetivo é 200% maior

Com a ocupação das comunidades do Complexo da Maré pelas Forças Armadas, a área será patrulhada por cerca de 850 homens por turno.

O efetivo será quase 200% maior que os 300 policiais militares que atuavam por dia na região desde o último domingo. Isso porque a escala de trabalho das tropas federais é diferente da PM.

E o número pode aumentar rapidamente, visto que outros 850 homens estarão permanentemente de prontidão para agir em caso de necessidade.

16 mortes em 15 dias

Segundo balanço divulgado ontem à noite pela Seseg, 16 pessoas morreram em 15 dias de operações nas dependências do Complexo da Maré.

O relatório não fornece detalhes nem as circunstâncias específicas de cada uma das mortes, apenas adianta que houve 36 confrontos entre policiais militares e suspeitos, resultando na morte de 16 deles. Outras oito pessoas ficaram feridas.

A ocupação do Complexo de favelas da Maré --um dos mais importantes redutos do tráfico de drogas do Rio de Janeiro--, último domingo (30), foi realizado em 15 minutos.

A operação contou com um efetivo de 1.500 homens, sendo 1.180 policiais militares e 130 policiais civis, com apoio de policiais federais, policiais rodoviários e de 250 fuzileiros navais.