Folha | 5 de dezembro de 2013 - 17:49 economia

Dólar cai a R$ 2,361 com extensão de intervenções do Banco Central

Depois de sete altas consecutivas, o dólar caiu em relação ao real nesta quinta-feira (5) após o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ter afirmado que a autoridade vai manter seu programa de intervenções diárias no câmbio para conter o avanço da moeda provocada por incertezas em relação à recuperação da economia americana.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou o dia em queda de 0,76%, a R$ 2,361 na venda. Ontem, a moeda havia fechado em seu maior valor em mais de três meses. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, encerrou a quinta-feira com desvalorização de 1,25%, a R$ 2,359.

De acordo com Tombini, a forte oscilação da moeda poderia pressionar a inflação, algo que o BC quer evitar. Ele não deu, porém, detalhes de como serão os "ajustes" que o programa sofrerá nem de quando começarão.

O dólar mais alto encarece, em reais, os produtos importados pelo Brasil, como matérias-primas, componentes eletrônicos e outros itens de consumo, o que contribui para o aumento da inflação no país --que já preocupa o governo.

"Aproveito a oportunidade para dizer que, com alguns ajustes, o BC estenderá o programa de hedge [proteção] cambial no futuro. Em 2014, o BC não sairá de cena deste mercado", disse Tombini no discurso que precedeu almoço promovido pela Febraban (federação dos bancos) para presidentes de bancos, executivos do setor, ministros, secretários e outros convidados, em São Paulo.

Especialistas consultados pela Folha afirmam que o anúncio do presidente do BC tranquilizou o mercado, que estava preocupado com o fim do programa de intervenções, anteriormente previsto para este mês.

"Esse era um dos motivos que estavam empurrando para cima a cotação da moeda americana nos últimos dias", diz Guilherme Prado, especialista em câmbio da Fitta DTVM. "Além disso, os meses de dezembro costumam contribuir para a alta do dólar porque as empresas aumentam suas remessas para o exterior. Com a prorrogação do programa, o BC pelo menos ameniza essa alta, embora a tendência continue de oscilação para cima", acrescenta.

Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, a medida do BC mostra que o governo está fazendo tudo o que pode para controlar a inflação no próximo ano.

"Para 2013, nada mais pode ajudar. O aumento do juro básico [a Selic] para 10% ao ano vai amenizar a inflação apenas em 2014. O governo está fazendo tudo o que ele pode em 2013 para estancar a inflação e ajudar a economia no próximo ano. Através do seu programa de intervenções no câmbio, o Banco Central tenta segurar a volatilidade do dólar e, com isso, reduzir a pressão inflacionária. Esse foi um dos motivos que pode ter motivado o BC a manter seu programa por mais tempo", diz.

EUA

As incertezas dos investidores sobre o ritmo de recuperação dos EUA empurram o dólar para cima no Brasil porque, diante da perspectiva de que o Banco Central americano vai retirar os estímulos econômicos naquele país, cresce no mercado a aposta de que haverá menos dólares para investimentos em países emergentes, como o Brasil.

É que mensalmente, desde 2009, o BC americano injeta US$ 85 bilhões na economia dos EUA por meio de recompra de títulos públicos e parte desse dinheiro se transforma em investimentos em outros países.

Com o fim do incentivo, menos recursos estariam disponíveis para esses investimentos e, diante da possibilidade de menor entrada de dólares no Brasil, o preço da moeda americana sobe.

BRASIL

Para que a economia brasileira volte a crescer de forma sustentada, na avaliação do presidente do BC, é preciso que se recupere a confiança dos consumidores e dos empresários.

A participação também do setor privado no financiamento de médio e longo prazo é um dos principais desafios do sistema financeiro brasileiro, afirmou o presidente do Banco Central. A necessidade fica ainda maior por causa do programa de concessões de infraestrutura.