| 6 de abril de 2011 - 15:36

Leia o artigo "QUANDO O BRASIL CHORA A MORTE DE SEUS LÍDERES" por Wagner Cordeiro

O falecimento do ex-vice-presidente da República José Alencar, comoveu pessoas de todas as partes do Brasil e fez-me lembrar (apesar de não ter vivido aqueles tempos, as pesquisas históricas nos mostram) a partida de outros dois líderes nacionais: os ex-presidentes Getúlio Vargas e Tancredo Neves.

No dia 24 de agosto de 1954, o então chefe da República, Getúlio Dornelles Vargas suicidou-se com um tiro no peito no interior de seu quarto, no Palácio do Catete, o estabelecimento onde residiam os presidentes na época em que a cidade do Rio de Janeiro era a capital federal. Dono de uma gigantesca popularidade, sobretudo nos meios operários, Vargas administrou o governo de forma centralizadora e nacionalista, política essa responsável por introduzir uma série de transformações que vão desde o estabelecimento de grandes indústrias, à criação das leis trabalhistas vigentes até os dias de hoje. Político contraditório, Getúlio exerceu de uma só vez, por meio de golpes e articulações políticas, um mandato de 15 anos como presidente do País. Chegou ao poder como um liberal, tornou-se ditador, e no último mandato (1951-1954) atuou como um democrata.

O cortejo fúnebre desse personagem marcou as ruas do Rio de Janeiro. Imagens daquele ano permitem observar que a orla da praia do Flamengo ficou repleta de cidadãos entristecidos pela morte trágica do “pai dos pobres”.

Em 1985, outro falecimento comoveu a nação, tratava-se de Tancredo de Almeida Neves. Liderança mineira – assim como Alencar – Tancredo, do PMDB, havia sido eleito presidente, pela via indireta, nas eleições presidenciais de 15 de janeiro de 1985 ao vencer o candidato governista Paulo Maluf (PDS). A vitória do peemedebista encerrou o ciclo de 21 anos de ditadura militar no Brasil, iniciado no dia 31 de março de 1964. A ordem democrática restabelecia-se triunfante, e o povo nas ruas delirava de emoções.

Porém, o destino marcou a hora e o lugar, como diria uma música da dupla Milionário e José Rico. Um dia antes da posse (14 de março), devido a problemas cardíacos, Tancredo precisou ser internado, ficando a Presidência da República sob chefia, de forma provisória, do vice José Sarney. Entre março e abril daquele ano, a forte religiosidade dos brasileiros, mostrou-se ainda mais sólida, com orações pela recuperação do presidente eleito. Contudo, no dia 21 de abril - feriado de Tiradentes (outro mineiro) - Tancredo faleceu, levando consigo a esperança de milhões de cidadãos que por décadas lutaram pela redemocratização. Coube assim, a Sarney administrar a Nova República e seus anseios.

Agora foi José Alencar Gomes da Silva, ex-vice do ex-presidente Lula. Figura carismática, Alencar, saiu das origens humildes para se tornar um empresário bem sucedido. Elegeu-se senador pelo antigo PL de Minas Gerais, em 1998. Em 2002, compôs a chapa como vice do candidato petista a sucessão do presidente Fernando Henrique. Nos anos em que exerceu o segundo cargo mais importante da federação, Zé Alencar se notabilizou pela intensa luta contra o câncer, e pelo modo tranquilo com que encarava a proximidade da morte, o que lhe rendeu a admiração de várias pessoas.

Mais uma vez os brasileiros mostraram seus sentimentos pela perca de um líder renomado, o que possibilita observar a identificação que a sociedade nacional tem com alguns de seus governantes. Assim como ocorre no caso de morte de entes queridos anônimos, os chefes de governo ao saírem da vida terrena também são reverenciados, porém com a adição de um número maior de adeptos. Se a política brasileira ficou mais pobre ou não, cabe a cada um de nós fazer o julgamento. Que os bons exemplos desses personagens possam servir de inspiração para os representantes que comandam essa terra.