No Brasil, Obama vai tentar recuperar imagem ruim deixada por Bush
Obama escolheu reforçar os valores universais da igualdade e democracia
Em apenas dois dias, a comitiva americana conseguiu montar uma agenda para o presidente Barack Obama no Brasil carregada de simbolismos. A troca da sisuda São Paulo pelo Rio de Janeiro; o discurso ao “povo brasileiro” na Cinelândia e as boas-vindas à nova presidente do país: mensagens que pontuam o desejo de uma relação estratégica e amigável com o maior representante da América Latina, apontam especialistas brasileiros e americanos ouvidos pelo R7.
O cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM, Rodrigo Cintra, afirma que o objetivo da viagem é antes simbólico do que prático. Para ele, Obama tentará melhorar a imagem ruim deixada aos brasileiros pelo antecessor George W. Bush, mas não espera grandes acordos e parcerias concretas.
- A escolha pelo Rio de Janeiro é bastante representativa. A cidade não traduz os negócios, como São Paulo, mas o povo brasileiro. Será uma apresentação pública do presidente e oportunidade de mostrar como o seu país está alinhado com o Brasil.
Novo capítulo com Dilma
A relação com Dilma Rousseff também será um ponto de destaque na visita. Figura mais prática e menos ideológica do que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, Obama deve construir com Dilma uma relação mais “funcional”, afirma Shannon O’Neil, especialista em estudos sobre a América Latina do Council on Foreign Relations, de Washington.
- A identificação já é natural por serem dois presidentes pioneiros [Dilma a primeira mulher presidente do Brasil, e Obama o primeiro negro na Presidência americana]. Desde que Dilma foi eleita, ambos deram sinais de relação será mais funcional, objetiva e reflexiva.
Pontos que criavam polêmica entre os dois países, como o apoio do Brasil ao programa nuclear iraniano e aos líderes anti-EUA (Hugo Chávez e Fidel Castro), perderam a força com a saída de Lula e vão passar longe dos jantares e reuniões entre os presidentes, na opinião de Julia Sweig, também membro do Council on Foreign Relations.
- Dilma deixou seu recado ao se dizer defensora dos direitos humanos no começo do mandato. Isso não significa que EUA e Brasil não terão suas discordâncias, mas sinto um movimento para superarem esses pontos e manter a parceria.
Os grandes discursos populares no exterior começaram ainda quando Obama era candidato na Coluna da Vitória, em Berlim, teve seu grande momento na Universidade do Cairo, ao se reconciliar com o mundo muçulmano. Agora a Cinelândia, no centro carioca, será o seu mais novo palco para reforçar os “valores americanos”, aponta o professor Rodrigo Cintra.
- Obama escolheu reforçar os valores universais da igualdade e democracia para todo povo brasileiro. Será uma grande propaganda no sentido positivo. Bush deixou mensagem negativa, e Obama quer recuperar liderança ‘do bem’ americana.
Na análise de Peter Hakim, presidente do instituto Inter-American Dialogue, o evento também delimitará a importância do Brasil para a América Latina.
- Acabo de voltar da Colômbia e o que eu ouvi por lá foi que o mais importante acontecimento na América Latina nos últimos tempos é a ascensão do Brasil [no plano internacional]. Então, o que ele vai dizer ao Brasil terá reflexos em toda a região.
A Casa Branca indicou que o discurso de Obama na Cinelândia será “aos brasileiros” e o discurso em Santiago do Chile, para onde o presidente americano irá sem seguida, será voltado à América Latina como um todo.