17 de mar�o de 2011 - 07:58

Com oferta menor, Brasil importa álcool dos EUA

O Brasil importou mais de 150 milhões de litros de etanol americano este ano, enquanto produtores lutam para abastecer o mercado local durante a entressafra da cana, estimou o diretor de um grande grupo de etanol nesta quarta-feira. O volume inclui diversos carregamentos que chegaram ao Nordeste do País, e uma carga de 40 milhões de litros que está chegando a Santos, principal porto de exportação de açúcar, situado na principal região produtora de cana do centro-sul.

O grupo Cosan comprou etanol que deve chegar ao porto de Santos em abril. Negociações futuras, no entanto, vão depender da diferença entre os preços no Brasil e nos Estados Unidos. Após a recente queda nos preços do etanol americano, a diferença agora é ampla o suficiente para tornar as importações mais plausíveis, disseram negociadores.

"O fechamento de novos acordos de importação não é tão simples porque se os preços (no Brasil) caírem no período entre a saída do navio dos Estados Unidos e a chegada ao Brasil, a diferença pode ficar mais curta", disse o executivo que pediu para não ser identificado. Leva mais de 30 dias para que o produto complete seu percurso até o Brasil.

A diferença atual entre os preços, no entanto, é bastante atrativa para os importadores. O álcool anidro americano é negociado, atualmente, no porto de Santos, a cerca de R$ 1.240 (US$ 745) por metro cúbico (mil litros), comparado com os R$ 1.450 pagos pelo combustível brasileiro, de acordo com um grande grupo de trading de São Paulo. Porém, com a expectativa de que diversas usinas comecem a moer a safra 2011/12 de cana nas próximas semanas, os preços devem começar a cair com a chegada dos combustíveis da próxima temporada ao mercado.

Uma diferença de especificação entre os dois produtos também torna a operação mais complexa. Uma vez que o combustível chega ao Brasil ele tem que ser reprocessado para atender às exigências locais. O etanol hidratado, nos carros flex do Brasil, estava sendo vendido a R$ 1.750 por metro cúbico na manhã desta quarta-feira, enquanto o anidro estava a R$ 1.600, de acordo com a corretora Mikz.

Pressão
O aumento nas importações vem em um momento em que o governo brasileiro, preocupado com a inflação, pressiona a indústria para começar a colher a cana antes do início oficial, em 1º de abril, visando reduzir os preços do etanol nas bombas. Essas importações dos Estados Unidos, que começaram em 2010, são as primeiras desde 1994, segundo a consultoria Datagro.

As importações de 150 milhões de l representam cerca de 0,5% da produção de etanol no Brasil da última temporada, de 27,2 bilhões de l. Os atuais preços na porta da usina são os mais altos em cinco anos em termos nominais, devido ao aperto na oferta após a indústria ter priorizado a produção de açúcar durante a última temporada de moagem, aproveitando os preços da commodity, que registravam os maiores valores em 30 anos.

A safra passada, que foi menor que o esperado devido ao clima seco, e a forte demanda por combustível contribuíram para apertar as ofertas de etanol na entressafra. Toda a gasolina vendida nos postos brasileiros levam uma mistura de 25% de etanol anidro. O Brasil também produz e consome álcool hidratado para a frota de carros flex. Apesar de um aumento de 25% nos preços deste ano, parte dos consumidores continua utilizando o combustível ao invés de optar pela gasolina.

No entanto, produtores dizem que a antecipação da temporada vai depender muito do clima, que tem sido bastante chuvoso nas principais áreas produtoras do centro-sul. "Nós podemos mostrar a situação da oferta às empresas, mas ultimamente elas são as únicas que decidem quando começa a moagem", disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica).