2 de dezembro de 2004 - 13:26

São Caetano irá responder por homicídio

O promotor Rogério Zagallo, da 5ª Vara do Júri, oferecerá denúncia contra o presidente do São Caetano, Nairo de Souza, e o médico do clube, Paulo Forte, por homicídio doloso, conforme sugeriu o inquérito policial que apurou a morte do zagueiro Serginho, 30, após parada cardiorrespiratória em outubro no Morumbi.

"Os acusados assumiram o risco do resultado [a morte de Serginho] ao não tomarem as atitudes para preservar a vida do atleta. Sobretudo pelo fato de não terem afastado o zagueiro das atividades esportivas, tal como fora recomendado por todos os médicos que foram ouvidos", disse o promotor à Folha na noite de ontem.

Rogério Zagallo explicou também que pretende realizar mais diligências, para produzir outras provas além das que constam do inquérito. Declarou que o laudo do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) contradiz as provas do inquérito e revelou que pedirá todos os laudos médicos e exames realizados no jogador para serem submetidos à análise da Universidade Federal de São Paulo.

O promotor disse ainda que pretende ouvir o médico do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP) Edimar Bocchi. Foi ele que, após ter dito que Serginho corria risco de morte caso continuasse jogando, voltou atrás e alegou que o atleta morreu por causa de uma "fatalidade".

Enquanto no inquérito Bocchi fez acusações veementes a Forte, anteontem ele soltou uma nota conjunta com o médico do São Caetano alegando que Serginho morreu por conta de uma doença (cardiomiopatia hipertrófica --apontada no laudo do SVO) não detectada em exames iniciais.

O promotor afirma que o pedido de condenação só será oferecido após o esclarecimento desses pontos. A denúncia então seguirá para um juiz, que decidirá se o processo continuará correndo na vara do Júri ou se vai para uma vara criminal comum. Há também a possibilidade, remota no caso, de absolvição nessa fase.

Em linhas gerais, a principal diferença entre o Júri e a vara criminal é que no primeiro --cuja função é processar e julgar os crimes dolosos (com intenção) contra a vida-- quem condena ou absolve é um corpo de jurados escolhidos do povo (o juiz, nesses casos, só fixa a pena), enquanto nas varas criminais a decisão compete a um juiz concursado.

Caso não se convença da tese do inquérito seguida pelo promotor --que o crime é um homicídio doloso--, o juiz pode mandar o processo para uma vara criminal. Nesse caso, o processo recomeça.

Além do Ministério Público, o CRM (Conselho Regional de Medicina) também convocará Bocchi para depor na sindicância administrativa que investiga o caso.

Enquanto isso, a família de Serginho pretende entrar na Justiça contra o Incor e responsabilizar Bocchi, por este ter "manchado" a memória do zagueiro.

Em fevereiro, o médico detectara em Serginho sinais de miocardiopatia em fase inicial (sem identificar "coração de atleta"), com risco de óbito, e recomendou-lhe a aposentadoria, como consta no prontuário médico do jogador.

Na terça-feira, porém, apresentou a versão da "fatalidade" e disse que Serginho tinha "coração de atleta" e duvidosa cardiomiopatia não hipertrófica em fase inicial.

"Prefiro a cassação do registro dele [Bocchi] no CRM [Conselho Regional de Medicina] a pedir dinheiro do Incor. Queremos uma retratação. Vamos entrar contra o Incor, arrolando o doutor Edimar porque acreditamos que ele mentiu ao dizer que o Serginho sabia do risco de morte", afirmou Luzio, irmão da viúva e porta-voz da família, para quem o Incor é co-responsável por ter Bocchi como funcionário.