Folha Online | 20 de outubro de 2010 - 14:19

Caso Erenice Guerra paralisa votações no Senado Federal

As acusações de corrupção na Casa Civil paralisaram nesta quarta-feira as votações nas comissões do Senado. Sem acordo com os governistas para votar os convites para a ex-ministra Erenice Guerra (Casa Civil) e a candidata Dilma Rousseff (PT) prestarem depoimentos na Casa, a oposição impediu a retomada dos trabalhos.

Autor dos convites, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) não aceitou recomeçar as votações na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) sem incluir os requerimentos de Dilma e Erenice.

"O que deseja o governo é proteger-se até as eleições. E depois sem a preocupação do desgaste político os governistas tentarão rejeitar a proposta e levar o assunto ao esquecimento", disse.

O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), se mostrou disposto a retomar as votações mesmo sem analisar os convites. Após consultar Dias, porém, a comissão acabou por paralisar os trabalhos. "O Álvaro quis impor um desgaste político, ficamos sem votar de novo."

Sem o compromisso de não votar os convites, os governistas esvaziaram a sessão. A exemplo da CCJ, não houve quorum (número mínimo de senadores) para abrir as sessões nas outras comissões da Casa. Como Dilma e Erenice não são mais ministras, elas podem ser apenas convidadas a falar. Não cabe convocação obrigatória pela Casa.

O filho da ex-ministra e a empresa Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, à qual é ligado, são acusados de fazer lobby para ajudar a MTA Linhas Aéreas a obter a renovação de uma concessão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A renovação permitiu, depois, que a empresa assinasse um contrato em condições privilegiadas com os Correios.

Reportagem publicada hoje pela Folha mostra que o esquema de tráfico de influência comandado por Israel Guerra usava não apenas a estrutura da Casa Civil mas também a de pelo menos outros dois órgãos da Presidência da República: a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Computadores e funcionários dessas outras duas repartições foram utilizados pelo grupo de amigos de Israel Guerra, que era peça central do contato de empresários com negócios do governo --cobrando uma "taxa de sucesso" pelo tráfico de influência.