2 de dezembro de 2004 - 07:57

Kaká aprende a lidar com marcação cerrada

Ele tem apenas 22 anos, mas com o título de campeão do mundo, com a Seleção Brasileira, e do Campeonato Italiano, com o Milan, Kaká pode ser perdoado por ter pensado que não tinha mais nada a provar.

Depois de um difícil começo de temporada, o meia teve de mostrar que consegue lidar com uma maior atenção dos marcadores sobre ele nos jogos e com a impaciência da mídia e da opinião pública.

Kaká é o principal criador de jogadas da atual equipe campeã italiana, e tem que lidar com muita responsabilidade para um jogador que está no futebol europeu há apenas 15 meses.

As jovens promessas latino-americanas geralmente demoram para se adaptarem ao futebol da Europa, mas Kaká causou um impacto instantâneo na temporada passada com dez gols e uma série de excelentes apresentações, ajudando o Milan a chegar ao título.

O crescimento do jogador foi muito rápido desde sua aparição nas divisões de base do São Paulo até o seu status atual de um dos maiores talentos do futebol nesta temporada. Mas pela primeira vez na carreira, Kaká tem sentido dificuldades para atuar.

"Esta temporada tem sido mais difícil que a última", disse o meia à Reuters em entrevista. "Sou conhecido na Itália agora, os marcadores me conhecem e, aqui, eles são duros. Os últimos dois ou três meses não foram tão bons."

Inevitavelmente, suas atuações foram examinadas cuidadosamente e o atleta acabou criticado na mídia italiana. Mas ele diz que não foi afetado pelas novidades negativas.

"Não teve problema algum. Sei que sou novo e que sempre digo que tenho muito a aprender apesar de já ter aprendido muito. Sei que as coisas são assim no futebol. Quando tudo está bem, as pessoas falam bem de você e vice-versa. Infelizmente, futebol é assim", conformou-se.

Marcação cerrada

Mas enquanto se diz indiferente às críticas, o atleta afirma que sabia que teria de se adaptar ao desafio de ser um jogador bem marcado e acredita que não sofreu uma queda de performance, mas sim que os técnicos adversários têm conseguido restringir suas atuações.

"Na Itália, os técnicos são muito atentos aos detalhes. Eles realmente estudam tudo e essa é a grande diferença aqui. Eles olham sua movimentação, seu posicionamento, estudam você e trabalham com o objetivo de te parar. Então, neste ano tenho sido marcado homem-a-homem toda hora. Às vezes recebo até dupla marcação", analisou.

Recentemente, ele voltou ao seu melhor na goleada sobre o Shakhtar Donetsk pela Copa dos Campeões, quando marcou duas vezes e deu passe para outro gol, mostrando mais um vez sua habilidade, criatividade e movimentação, que contrastam com o jogo de força que domina muitas partidas.

"Sim, as coisas deram mais certo para mim e para o time nas últimas duas semanas. Tive de mudar algumas coisas para lidar com os marcadores, mas não vou falar o que fiz", brincou Kaká, soltando um sorriso em seguida.

O jogador, cada vez melhor, ganhou permissão para se mover pelas laterais do gramado e começou seus ataques da defesa, deixando o marcador, ou marcadores, fora de suas posições, abrindo espaço para seus companheiros Rui Costa e Clarence Seedorf explorarem o campo.

O que não mudou foi a maneira de Kaká jogar e viver.

À primeira vista ele parece o modelo do jogador moderno, sempre bem-vestido, com um belo sorriso e um lucrativo acordo de patrocínio com uma empresa de material esportivo.

Diferença positiva

Mas em uma era em que muitos sentem que o dinheiro roubou a alma do jogo, Kaká é um atleta que entende sua responsabilidade e, assim, pode usar sua posição para fazer a diferença para aqueles que não possuem a mesma riqueza.

Nesta semana ele foi apontado como embaixador do Programa de Alimentação da ONU, uma função que aceitou após ficar chocado com as estatísticas sobre a morte mundial de crianças devido à fome.

Diferentemente de muitos jogadores brasileiros, Kaká não cresceu na pobreza e vem de uma família de classe média. Ele acredita que os jogadores têm o dever de ajudar os pobres e quer ver mais pessoas ligadas ao futebol fazendo a mesma coisa.

"No Brasil, achamos que podemos ajudar usando nossa imagem, o fato de sermos muito conhecidos. Creio que muitos jogadores querem fazer alguma coisa, mas não sabem como. Fui informado da função de embaixador e pensei que era uma maneira de fazer algo", afirmou.

Kaká disse que seu desejo de combater a fome surgiu de sua experiência como jogador. "É difícil quando estou com a seleção brasileira e temos de jogar em algumas áreas pobres do Brasil. Você vê pessoas nos assistindo treinar ou jogar e então você percebe que algumas delas vão embora sem nenhuma comida no prato", concluiu.

 

Terra Redação