Bom dia Brasil / G1 | 5 de outubro de 2010 - 07:38

Tiririca tem 10 dias para provar que sabe ler ou pode não ser diplomad

O deputado federal mais votado do Brasil vai ter que dar explicações à Justiça. O palhaço Tiririca, que recebeu mais de 1,3 milhão de votos, tem dez dias para provar que sabe ler e escrever. Do contrário, pode não ser diplomado.

Mas, afinal, o que fez de Tiririca um fenômeno das urnas? Voto de protesto? O Bom Dia Brasil conversou com as pessoas nas ruas e com um cientista político.

Pelas ruas, foi difícil achar quem admitisse que votou no Tiririca, apesar dos mais de um milhão de votos que ele recebeu. Quem admitiu, disse que gostava do candidato porque ele era "alegre".

O protesto solitário de um motorista anônimo atravessa as avenidas de São Paulo. Tiririca virou polêmica nacional.

“Eu não tenho nem palavras. Não sei de onde saíram tantos votos. Não consigo pensar nisso. É triste”, lamenta uma eleitora.

Todo mundo tem alguma opinião sobre o deputado federal mais votado do país. Mas quem ajudou a eleger Tiririca?

“Eu. Tem a ficha limpa. Um palhaço, brincalhão, tira sorriso de todo mundo, foi isso”, admite o impermeabilizador José Paulino da Silva.
“Só não votei por que não voto aqui”, garante outra eleitora.

Há quem diga que a força de Tiririca está na peruca. Sem ela, o palhaço é apenas um homem simples: Francisco Everardo Oliveira Silva.
“Não imaginava nem que eu ia ser eleito. É sensacional, é coisa de Deus”, comenta Tiririca.
Vestido de palhaço, Tiririca filosofa sobre política. "Vote em Tiririca. Pior do que está não fica", dizia seu slogan de campanha.

O cientista político Fernando Abrúcio, da FGV, analisa: "Em política se pode afirmar pior do que está não fica? Não... sempre, obviamente, pode piorar. Eu acho que o slogan do Tiririca é o seu exemplo, de certa maneira, ou seja, ele pode fazer com que nós tenhamos uma pior representação de São Paulo no Congresso Nacional. Há exemplos históricos: a Alemanha estava em uma enorme crise e optou pelo nazismo. Piorou. Pior que está fica. Então eu acho que é importante a população saber que o voto é uma coisa muito responsável”, diz Fernando Abrúcio.

Para Abrúcio, a candidatura de Tiririca ridiculariza a essência da política.

“Nós temos que mudar a legislação que cria a coligação e a eleição proporcional e temos que mudar a legislação do horário eleitoral gratuito, obrigando a que nele ocorram debates sobre temas importantes do país. Isto é possível de ser feito na forma da lei. Não se fez até agora porque os partidos gostam dos personagens, por que os personagens podem puxar votos para aqueles que mais seriamente fazem a política real do país”, pondera o cientista político Fernando Abrúcio.

Mas o mandato de Tiririca pode estar ameaçado. A Justiça Eleitoral de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público sobre a falsificação da declaração apresentada por Tiririca se dizendo alfabetizado.

Um laudo do Instituto de Criminalística apontou "artificialismo gráfico" no documento. Uma das observações dos peritos é que uma mesma letra foi escrita de até três formas diferentes. A suspeita é que alguém escreveu a declaração no lugar do candidato.

“Alguém, vamos dizer, piorou a própria grafia para fazer-se passar pelo candidato. Ao que tudo indica, ele não teria condições sequer de escrever aquele texto”, analisa o promotor Maurício Antônio Ribeiro Lopes.

“Se realmente, lá na frente, houver alguma ação que traga à cassação desse registro, os votos serão nulos”, explica a assessora do TRE-SP Eliana Passarelli.

A Justiça Eleitoral de São Paulo estabeleceu prazo de dez dias para Tiririca apresentar defesa. Segundo assessores, ele só deve se pronunciar na semana que vem.

Com sua votação, Tiririca conseguiu eleger mais três deputados da coligação: Otoniel Lima, do PRB; Vanderlei Siraque, do PT. E o delegado Protógenes Queiróz, do PCdoB.