UOL | 15 de setembro de 2010 - 15:06

Cerrado é foco de 56% das queimadas registradas no país

A região do Cerrado brasileiro foi palco de 56% de todos os focos de incêndio registrados no país de 1º de janeiro a 14 de setembro deste ano, segundo o satélite de referência utilizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para detectar queimadas no território brasileiro. Das 69.370 queimadas registradas no país, 39.404 ocorreram no Cerrado.
Com o objetivo de conter o avanço do fogo no bioma, que ocupa lugar de destaque na produção de grãos no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança hoje um plano de prevenção ao desmatamento e queimadas no Cerrado.

Esses dados ampliam a ameaça sobre o bioma, realçados em levantamentos que mostraram recentemente que o Cerrado já perdeu quase metade de sua área original.

Em relação ao ano passado, o total de registros de queimadas em todo o território nacional cresceu 180% entre o início de janeiro e ontem (14). Durante os últimos nove meses, ocorreram 69.370 notificações de incêndios. No mesmo período de 2009, o instituto contabilizou 24.747 queimadas.

Levando em consideração apenas o Cerrado, o número de focos de incêndio cresceu 386% de um ano para outro. Enquanto que em 2009 foram registradas 8.113 queimadas, em 2010 foram notificados 39.404 focos de calor.

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. Sua área contínua incide sobre os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal.

O Estado campeão até aqui em número de queimadas é Tocantins, com 11.151 focos de incêndio. Em seguida aparecem Mato Grosso (10.468), Goiás (5.109), Bahia (3.239), Minas Gerais (2.740), Maranhão (2.682), Piauí (1.560), São Paulo (1.099), Mato Grosso do Sul (1.088), Distrito Federal (233), Pará (29), Rondônia (4) e Paraná (2).

Segundo a meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) Maria das Dores de Azevedo, as condições climáticas dos Estados que compõem o Cerrado propiciam as queimadas.
“Nessa época de inverno essa região é tradicionalmente afetada por incêndios, devido ao tempo seco e as altas temperaturas que formam um bloqueio e não permitem que frentes frias se aproximem”.

A meteorologista explica ainda que o tipo de vegetação rasteira típica desse bioma e o longo tempo de estiagem também pioram a situação. Ela cita como exemplo a cidade de Brasília, que segundo o próprio Inmet, não chove há exatos 111 dias.
Além do Distrito Federal, outros Estados como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também sofrem com a falta de chuvas.

Desmatamento
De acordo com dados divulgados no início do mês pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Cerrado perde cada vez mais em biodiversidade com o avanço do desmatamento.
Segundo o documento, 85 mil km² de cobertura nativa do Cerrado (cerca de 4,1% do atual 1.052 milhão de km²), foram destruídos entre 2002 e 2008, de acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente.

Com 48,3% de toda a área original de Cerrado já derrubada, pesquisa IDS (Indicadores de Desenvolvimentos Sustentável) 2010 chama atenção para o ritmo do desmatamento do bioma e sugere medidas urgentes, como a criação de unidades de conservação em áreas de fronteira agrícola.

O Cerrado se destaca não só pela diversidade de espécies de flora e fauna, mas sobretudo pela produção agrícola. A Região Centro-Oeste, onde está localizada a maior parte do bioma, deve produzir 51 milhões de toneladas de grãos na safra 2009/2010, segundo estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).