29 de novembro de 2004 - 13:21

Artigo "Quando sopra o minuano" de Demerval Nogueira

Quando sopra o minuano

 

 

Demerval Nogueira (*)

 

Quando falamos, quando sopra o minuano, não retratamos especificamente aquela antiga radionovela, muito menos à antiga tribo Indígena dos Minuanos que habitavam o Rio Grande do Sul, nem sobre o minuano, vento frio e seco que sopra de S.O. no inverno, em geral por três dias, mas sim, de um chamado “bons ventos”. Como aquela história ou mesmo estória, “que bons ventos o traga!”. Falamos do “vento” que começa ventilar a chegada de uma nova temporada. Faltam poucos dias para que o movimento de translação do globo terrestre, movimento executado pela terra de oeste para leste em torno do sol, descrevendo uma elipse alongada, em 365,3 dias, ou um ano como é tradicionalmente conhecido.

O ano de 2004 está caminhando para seus arremates finais e, por conseguinte, 2005 começa a se exercitar para entrar em ação. É óbvio que todos esperam um novo ano com grandes realizações, afinal, logo no dia 1º de janeiro, tomam posses quase seis mil prefeitos e milhares de vereadores eleitos em três de outubro último. Também devemos levar em consideração que a partir de 2005, começam as “infindáveis” conversações sobre as eleições de 2006, eleições que envolverão cargos eletivos que demandam de deputado federal à presidente da República. Devido à vastidão do nosso País, considerado um verdadeiro “Continente”, sendo o maior da América Latina, com os seus mais de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, cortados pela Linha do Equador e Trópicos Paralelos, situados em latitudes simétricas iguais à obliqüidade da eclíptica e que representam aproximadamente a trajetória aparente diurna da projeção do Sol sobre a superfície terrestre durante o chamado solstício.

Devido a tudo isto, somos um País Tropical. Temos quatro estações para todos os gostos. Como diz Jorge Bem Jor em uma de suas melodias, (...) “Moro, em um País tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza (...)”. Porém, o nosso objetivo não é “geografar” e sim, demonstrar que um novo ano está preste a surgir em novos horizontes e que as esperanças, como de praxe, devem ser renovadas.  Esperança de que possamos ter administradores e legisladores municipais com interesses voltados para o desenvolvimento de seus municípios e munícipes, afinal, foram eleitos com este compromisso. Esperança de que a famigerada economia brasileira possa retomar um rumo condizente com a realidade daquilo que almeja o povo brasileiro. Esperança de que a fome e a miséria sejam decepadas do nosso País, que a Reforma Agrária possa sair verdadeiramente do papel e atender aqueles que lutam por um pedaço de chão. Que os sem teto possam ter a sua moradia digna e que o prolongado desemprego seja exaurido ou pelo menos atenuado. Que os mais de 60 milhões de brasileiros que sobrevivem abaixo do grau de miserabilidade, o chamado “estado de risco”, tenham um reconhecimento verdadeiro e sejam incluídos no rol da chamada inclusão social, mas uma inclusão que realmente dê ao cidadão condições dignas de vida, como, trabalho, saúde, educação, lazer, etc., e não apenas com as “sacoletas” dos 30 produtos básicos que às vezes mais humilha o cidadão do que sacia sua própria fome.

É altamente necessário que as autoridades políticas e constituídas tenham em mente que, onde não há trabalho, não há esperanças de melhores dias em cada coração, em cada rosto, em cada mão que trabalha e afaga, mãos que decidem os destinos do nosso País e, conseqüentemente, não há espaço para o resgate e muito menos para o exercício da verdadeira cidadania. É aí que prospera a desonra e impera a injustiça, facilitando sobremaneira a penetração do triste “minuano” que sopra de forma cruelíssima e avassaladora à chama ardente e peçonhenta da corrupção e das barbáries. Esta situação favorece grandemente a abertura de lacunas incomensuráveis para que possa proliferar cada vez mais a marginalidade e o largo crescimento do submundo do crime.

 

 

(*) Radialista e articulista