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Corumbá

Um ano após dar o galope inicial, cavaleiro encerra cavalgada pelo Pantanal

22 Nov 2013 - 16h38Por 94 FM

Era novembro de 2012 quando em Nossa Senhora do Livramento, no Pantanal do Mato Grosso de lá, Luiz Otávio Barboza Carneiro, de 58 anos, quatro cavalos e dois burros tomaram a estrada rumo ao descobrimento. O que o cavaleiro queria era percorrer a rota pioneira, cavalgando pelo mesmo Pantanal por onde passaram seus trisavós e com os galopes de hoje, viver o sentimento que eles compartilharam ao desbravar a região mais abençoada do Mato Grosso, seja de lá ou de cá.

Trineto de Nheco, é justamente do Oeste ao Leste da região que ele pretende terminar esta cavalgada solitária. Pelo Pantanal do Paiaguás à Nhecolândia, ele galopou só, mais de 800 quilômetros e em cada pouso encontrou o que tanto procurava – há um ano atrás, quando a reportagem perguntou a ele o por quê da viagem, ele justificou os galopes para encontrar sua dona - a felicidade.

“Essa eu encontrei com certeza em cada dia que eu viajava, mais encontrava”. Os olhos até brilham. A voz muda, sem que ele perceba, mas o entusiasmo fala por Luiz Otávio. O espírito do homem pantaneiro se sobrepõe ao médico veterinário por formação e leiloeiro rural e a narrativa segue com trilha sonora. A paixão pela qual ele fala do Pantanal e da experiência de vivê-lo só é ditada pelo ritmo do trote. Pocotó, pocotó, pocotó.

“As pessoas perguntavam, como consegui vencer determinadas coisas? Primeiro por vontade, segundo pela felicidade que isso me causava”. O Pantanal prega peças até em quem o tem correndo no sangue. Um burro morto pelo veneno de uma cobra mui venenosa. A ausência da chuva que fez a água faltar. A desconfiança do homem pantaneiro que viu sua terra virar rota de tráfico e de roubo de gado.

Das dificuldades, ele elencou começando pelo trajeto. “No asfalto e sem acostamento. É difícil viajar assim. Perdi um burro picado por cobra, tive que abandonar parte do material de cozinha e apesar de estar viajando pelo Pantanal, não tinha chovido e faltava água tanto para eu beber, como a tropa. Por estar sozinho, em determinado momento, procurava ajuda, mas não tinha”.

Boa parte dos trechos foram percorridos em fazendas. Mas ao contrário dos campos, do pasto e da vastidão de um cenário que só o pantaneiro vê, sente, ouve e toca, Luiz Otávio e a tropa, agora de cinco, passaram por corredores boiadeiros fechados, entre arames, hostis. “Mas o homem pantaneiro, de modo geral é um bom anfitrião, apesar de que no primeiro contato, as pessoas ficavam desconfiadas. Mas depois que eu explicava, era bem recebido. Existia uma razão”, justifica.

Quando ele fala de homem pantaneiro, a gente vê a necessidade de pontuar o que é hoje, em 2013, o homem do Pantanal? Nos mesmos trotes e relinchar dos cavalos dele, os que lá habitam são os mesmos dos anos em que o Pantanal era desbravado?

“Homem pantaneiro não é fazendeiro. É o ribeirinho, o vaqueiro, o roceiro. É aquela comunidade que viveu a vida inteira no Pantanal. Esse ser está em extinção”. Essa, foi uma das constatações que a viagem lhe trouxe à tona. Penso que aos olhos de quem é pantaneiro desde o trisavô, dói na alma, no chapéu e na botina ver as casas de peões abandonadas.

“Muitas terras foram vendidas. O Pantanal até anos atrás era quase que uma família. O homem pantaneiro você não encontra mais, a família pantaneira e sua cultura acabou”.

Não foi só de tristeza que viagem seguiu. A vontade, o sonho e o desejo de percorrer a rota pioneira vem de décadas. Ele realizou. Em 43 dias, a primeira fase, a última, prestes a começar, deve durar 15. Dos 800 quilômetros já percorridos, os de agora serão, num trote só, uma média de 300.

“Todos os momentos são extremamente emocionantes. A gente vê as facilidades que temos hoje. Nossos avós fizeram isso, mas em 1880. Nada ali era povoado e eu passei por fazendas em que consegui falar em celular. Hoje tem mudanças bastante grandes, cultural e até de mãos”. O Pantanal de Nheco foi parar em outras mãos.

Da cavalgada que se encerra neste ano, a partida da próxima fase será dia 2 e até o Natal, ela termina no leilão do corixão, em Rio Negro. As pessoas perguntam a Luiz Otávio se ele vai escrever um livro do que viu e viveu, já que tudo foi fotografado. Quanto a isso ele diz não saber. Mas parte dos registros estáo na Fan Page do projeto. Dos mais de mil quilômetros de Pantanal desbravado, a certeza que ele tem é de que precisa segurar a extinção do homem ribeirinho. A receita, ele não sabe. “Talvez seja um melhor bem-estar, escolas”.

O amanhã, se a cavalgada pelo Pantanal termina aqui, ele também não consegue dizer. Repito aqui, as palavras que um dia Luiz Otávio me disse. “Vou falar uma coisa, você que não conhece, mas fique só aqui, o Pantanal é apaixonante. Você larga tudo o que tem no mundo e vem pra Nhecolândia. Me chamam de louco, mas por que? O povo vai a pé para o Caminho de Santiago. A única coisa que eu quero é pegar o meu cabalo e vim de Livramento, como meus ancestrais”.

E isso ele fez. Mais do que desbravar as terras pantaneiras, registrar como está a região, Luiz Otávio redescobriu a si, como homem pantaneiro. “Para ser homem pantaneiro, não precisa ter posse, ter terra. Pantaneiro mesmo somos nós que nascemos, o pescador, o roceiro”. O Pantanal tem seus mistérios e encantos e tem também a felicidade de Luiz Otávio.

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